Entrevista


Adão Domiciano - Extremo I

Transcrição

“Eu fiz essa obra pensando no que estamos enfrentando hoje, né. O ser humano em si hoje está destruindo tudo o que tem ao seu redor praticamente, porque meio ambiente está aos poucos ficando cada vez pior. Eu presencio, passando na TV muitas vezes, falando de enchentes, lugares que foram totalmente alagados, e aí falam    que as pessoas, os próprios moradores muitas vezes, colocam lixo próximo de onde vai ter esgoto, e aí quando chove aquele lixo vai para dentro do esgoto, entope, e acaba se transformando em tragédias muitas vezes. Então, eu fiz esse trabalho, ‘Extremo’, pensando nesse extremo que muitas vezes acontece. Eu acho que isso é como se fosse um grito de alerta. É um desenho, mas é um grito de alerta, que muitas vezes as próprias pessoas que estão enfrentando situações assim, de enchentes e alagamentos, muitas vezes não pensam. Pensar antes, não é? Se você mora num lugar de risco, procure um lugar melhor para você morar, ou pelo menos procure não poluir o lugar onde você vive, porque você estará contribuindo com o meio ambiente e poderá estar ajudando a evitar tragédias assim. Eu uso a aquarela já faz alguns anos, e é a tinta pela qual eu me identifiquei mais, assim no meu trabalho primitivo, ou naif. Então, eu achei melhor fazer com aquarela, que ela me dá umas possibilidades que as outras tintas não dão, que é esse traço mais fino, os detalhes melhores no papel.”


Albina de Oliveira - O Poço do "Mundéo" Cuiabá

Transcrição

“O Poço do ‘Mundéo’ é uma referência que eles deu para esse poço. Por quê? Esse poço abastecia aqui o centro da cidade, entendeu? Essa… Aqui o centro antigamente chamava ‘Mundéo’, e por isso tem o Poço do Mundéo. É dessa forma mesmo. Porque, olha, era uma falta de água onde nós morávamos. A gente morava no centro, ali perto da Santa Casa de Misericórdia. É o centro daqui. A gente morava ali, era uma falta de água e todo mundo descia ali naquele poço, entendeu. Isso era uma coisa minha, que aconteceu na minha infância. E isso ficou gravado. Era daquela forma mesmo. Era gente que ia, as crianças brincando, e jogando bolita… Eu não pus jogando bolita, mas existia, aquela brincadeira de criança de ir brincando com bolita. E aquelas senhoras com a rodilha na cabeça, para não machucar, colocavam as latas d’água na cabeça. Era realmente como estava aquilo lá. Eu vou pintando… Eu não risco, eu vou pintando, eu vou criando, isso vai vindo da minha mente. Eu vou fazendo. É por isso que às vezes eu fico o dia inteiro no quadro, porque se eu saio dali eu já perco aquela coisa da cabeça, né.”


Aldo Entalhe - Santo Antonio (Estilizado)

Transcrição

“Me surgiu a ideia de fazer um Santo Antônio mais estilizado, uma coisa mais diferenciada, para mostrar para o público o que pode ser feito com a madeira. Então, detalhei ela um pouquinho, mais estilizadinha. Falei ‘Vou fazer uma coisa pequena’, como se fosse aqueles santos paulistinhas, né. Só que mais estilizada. A criação surgiu disso. A minha arte, eu tento fazer uma coisa popular, mostrar para o público em geral tudo o que se pode fazer com madeira. Um pedaço de madeira você pode transformar em arte. Foi tudo feito manualmente. E do simples, ficou bonito. É uma inspiração pura. Mexer com madeira é uma arte que você sai de si, você se desliga para mexer com a madeira. Então, a pessoa que for visitar lá, que pense, pare e pense bem sobre o que pode ser feito com um pedaço de madeira.”


Ana Denise - Tonho dos Queijos

Transcrição

“Eu estou mostrando as coisas típicas do meu Estado, porque inclusive aqui praticamente só sou eu de arte naif. É a segunda vez que eu pinto na Bienal, dessa vez eu ganhei um prêmio de incentivo, e isso está me abrindo portas. Eu já estou, eu já mandei telas agora para o Museu de Arte Naif Magog, em Quebec, no Canadá. Eu sempre costumo  tirar fotos das feiras livres em Aracaju, do Mercado de Aracaju, e eu retrato. E esse Tonho do queijo, ele era um feirante que é muito delicado, ele conversava com todos os clientes, entendeu? E sempre foi um vendedor que chamava a atenção. E eu pedi licença, perguntei se podia fotografá-lo, e queria fazer uma tela. Ele disse que eu podia e eu retratei igualzinho a barraca dele.”


Anoushe Duarte - Velho Chico

Transcrição

“A obra São Francisco é… Na verdade, a ideia é porque eu comecei a trabalhar numa empresa que trabalha para o São Francisco, e fiz algumas viagens para lá. Então, rotineiramente eu estou, eu sempre estou trabalhando com pessoas, e conversando com pessoa,s que tem alguma ligação com o São Francisco, seja um ribeirinho, seja um irrigante. O São Francisco é esse rio lindo, cheio de paisagens, que dá muita margem à imaginação, e também a população ribeirinha é muito diversa, né. Surgiu essa ideia de pintar. Agora, o São Francisco ele está um pouco mal-tratado, né. Então, a ideia do quadro é mostrar um São Francisco ideal. Então, ele é um São Francisco de águas, com muito volume de água, é um São Francisco muito colorido, muito rico, com muita natureza. Assim, um São Francisco que foi um dia, e que hoje a gente quer que ele volte, que ele se torne novamente esse São Francisco ideal, de muita riqueza para a população e para todos nós brasileiros. (…) Eu gosto do movimento que a madeira faz também, porque a tela é uma coisa. Na tela fica mais reto. E a madeira, ela dá um movimento diferente para o resultado da pintura, então eu gosto de usar bastante também. E acrílico pelas cores, né. Porque o naif é isso, você… O pintor naif gosta muito de abusar do colorido, né. Eu acho que o acrílico, ele oferece mais assim, são cores mais vivas.”


Antônio Anjo - Cada um cuidando no seu quintal

Transcrição

“A minha obra que foi selecionada para a Bienal é “Cada um cuidando do seu quintal”, por causa da dengue. Eu não sei falar como é que eu pintei, eu resolvi pintar e fui pintando, porque foi uma forma mais fácil para mim, porque… foi esse ano que eu comecei, né? Então eu fiquei meio, eu fiquei meio sem saída e pus esse nome.”


Areas Jr. - Carimbó e Pescador no Ver-o-Peso

Transcrição

“Meus quadros, quase todos, são voltados para retratar o popular, entendeu? Tanto do folclore, da cultura, mais da cultura popular brasileira. O que me motivou a pintar o ‘Carimbó’ é porque o carimbó é uma música e uma dança típica do estado do Pará, o estado que eu resido. Então isso que me motivou a tentar retratar a musicalidade e a expressividade do carimbó, porque eu gosto de carimbó, e é uma coisa bem típica paraense, com raízes acho que indígenas, africanas também. O ‘Pescador no Ver-o-Peso’, o que me motivou… O Ver-o-Peso é o cartão postal de Belém, né. Cheio de cores e aromas que você só vai encontrar na Amazônia, e em Belém. O maior mercado a céu aberto da América Latina é o Ver-o-Peso. E o pescador – lá é um mercado de peixes também, de frutas e de verduras -, e o pescador é uma figura assim típica. O pescador e o vendedor de peixes. O pescador, geralmente, são daqueles barcos tradicionais lá do Pará, da região do Marajó, onde eu morei também, que param lá em frente ao mercado para descarregar o peixe, entendeu? Então, é uma coisa assim, nossa, assim, de o cara andar só de bermudão mesmo, porque é muito quente, com o peixe… Geralmente, eles carregavam muito – hoje você não vê tanto, mas há alguns anos atrás -, umas caixas grandes de madeira, cheias de peixes dentro, botavam na cabeça… Entendeu? Isso é uma coisa, uma memória afetiva que eu tenho daquela parte de Belém.”


Arivanio Alves - As Adventistas

Transcrição

“Bom, esse quadro eu produzi ele especialmente para participar da Bienal, eu quis produzir algo que falasse tanto do meu Estado, do Ceará, quanto da realidade que eu convivo, que é a realidade de pessoas relacionadas ao Evangelho, por isso o nome ‘As Adventistas’. E são três moças que saem pelas casas, pregando o Evangelho, carregando a Bíblia na mão para pregar o Evangelho de casa em casa. O quadro ele é de um estilo bem simples, eu quis simplificar a formar, e eu busquei representar no amarelo toda a cor, e toda a vida que fosse do meu Estado. Toda a luz, que é algo que me impactou muito, a luz e o brilho do sol do Ceará. Eu quis, nesse quadro, ressaltar a luz do Ceará. E as cores, como o vestido de bolinhas, os animais ao longe, uma casinha azul, que é algo que, agora nessa fase da minha carreira está me… Está bem recente em mim. É uma casinha azul que eu vejo todos os dias quando eu vou para o meu trabalho, eu quis colocar tudo isso junto em um quadro que expressasse da forma mais simples o que eu sou como artista e o que eu gosto como arte. A personagem principal, no centro do quadro, ela é uma foto, é um retrato da minha noiva, e ao lado são duas amigas.”


Carlos Valério - Baiana Psicodélica

Transcrição

“Nós temos aqui uma artista local, conhecida mundialmente, a nível de Brasil, que é a Tarsila do Amaral. E aí eu falei: ‘Mas pera um pouco, Carlos, você é de São Paulo. Você vai valorizar uma artista que às vezes é meio que esquecida aqui da região, porque a gente não vê, né, exposições itinerantes dela, tal. Agora, o naif é o Brasil todo.’ E aí, eu tentei focar. E a sua obra, eu comecei a trabalhar – eu digo sua obra, porque é a obra minha que está lá no Naif, tá? -, eu estava começando a trabalhar nela em janeiro. E o que que acontece nas televisões, principalmente a Globo que patrocina lá o Carnaval do Rio de Janeiro, ela começa a dar aqueles insights, né. As escolas de samba, aí vem a passista, tal. E eu fui ver o que, o que que é tradicional numa escola de samba? É tradicional a moça sair de fio dental, mas uma coisa que marca para sempre é a ala das baianas. Agora, a baiana foi incondicional, né. A hora que eu abri o leitor de DVD e quando eu vi aquela peça, aquele movimento, eu falei: ‘Quem sabe eu vou fazer uma baiana que flutue como a gente vê ali na passarela, né?’ E aí, com aquele movimento, eu adaptei uma pecinha ali, onde a saia dela, ela levanta, conforme você gira ela, né, então eu quis associar a esse tipo de coisa.”


Carmézia - Lenda do Caracaranã

Transcrição

“Todas as minhas obras tem história. Aí, a mamãe contou a história, aí botaram esse nome do Caracaranã. Porque tinha um pássaro que gritava esse nome, ‘Caracara’. Mas ele diz que gritava bem alto, por isso que botaram o nome desse lago de Caracaranã. Como eu comecei a pintar no 1992, quando eu vem para cá para o Boa Vista, né, daí eu comecei a pintar, aí já passei para a cultura indígena. Aí eu resolvi pintar esse Caracaranã, que eu tinha passado seis anos lá, fiquei como empregada, né. Aí, morei lá. Como eu não sei se você acredita naquele Pajé, né, que reza, aí ele falava para mim que tinha uns indígenas morando, sempre do lago. De madrugada eles apareciam, só mesmo assim, a gente sentia aqueles pés batendo nas praias, pisando na água, né, e os indígenas vieram pescar no lago do Caracaranã. Aí que o cavalo marinho saiu, viram esse cavalo. Estava bem bonito, aquele luar, bem claro. Aí viram esse cavalo, de realidade. Tinha aparecido um cavalo pretão, rabo comprido, arrastando no chão. E crina dele também comprida demais. E viram esse cavalo, realidade. Por isso eu pintei essa história aí. Assim é a história do Caracaranã.”


Cerezo - Abrindo Janelas Contra o Preconceito

Transcrição

“Pois é, esse tema que eu escolhi é porque a gente… É um tema muito atual, e até, digamos assim, muito debatido, porque nós sofremos um preconceito muito grande, né, contra a questão do negro, né, no nosso país. Não é de agora, isso vem de muitos anos, e até hoje isso ainda se estende. Então, eu acho que, para mim, é uma questão muito forte que a gente precisa combater. A mulher, na história, ela tem uma força muito grande, né, para combater essa questão. E simbolicamente, a janela fechada é algo que impede as coisas, então a mulher está abrindo a janela contra esse preconceito na nossa sociedade. E assim, o preconceito está, muitas vezes, está dentro de casa, então você vê que a mulher está saindo de uma coisa fechada, e abrindo forçadamente, porque é assim que a gente tem que combater.”


Cícero - Boizinho, Elefantinho e Porquinho - Mamíferos, e Abelha, Zangão e Lava-Pé - Insetos

Transcrição

“É, eu sempre assisto o 51, o 52, que passa bastante bicho, né. Bastante animal, elefante, boi. Aí eu assisto bastante, daí eu ponho na cabeça, e eu faço pela mente assim. Aí eu venho e faço aqui no serviço, na hora do almoço. Aí vou fazendo, vou pensando e fazendo. Os bichinhos, né. (risos) O boizinho, o porquinho, né, a abelhinha, o zangão. (risos) E vou fazendo, vou pensando e vou fazendo, né. Faz seis anos já que eu estou fazendo isso, mas estou cada dia melhorando, né. Pela mente, né. Sempre usando a mente para fazer os animaizinhos. (…) Eu trabalhei com o meu pai na roça, plantando feijão, né, para a gente comer. E foi indo. E trabalhei com animal também, com cavalo, com boi. Tirei leite de vaca também. Aí fui aprendendo aos poucos. E tem só seis anos que eu comecei a fazer esses bichinhos, né. Deu na mente, e fui fazendo os bichinhos.”


Cleber Ramos - Führer e o Califádo do Terror, e Evolução da Espada para o Fuzil

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“Tudo, tudo essas obras aí foi feito o seguinte, são coisas atuais, e de vasta compreensão, de vasta leitura. Então, é o que você vê todo dia, em reportagem e na TV, no dia a dia. Muita violência. Porque são duas, duas desumanidades, o Califado do Mal e Hitler. É uma coisa de muita, muita violência. Para o pessoal do Califado fazer um… uma decapitação com um canivete, e o Hitler com a câmara de gás. Então, quer dizer, é o passado voltando no presente. É, a ‘Evolução da Espada para o Fuzil’ é porque antes era a arma branca, a arma igual a espada, e a evolução foi para o fuzil mesmo. Pessoas que você não via usar um fuzil para a violência, está vendo, igual a mulher. Até a mulher foi inserida no contexto. (…) Porque além de ser as cores primárias, é uma linguagem muito fácil de entender, e de fazer uma leitura. Então, é com esse objetivo, ficou mais bonito, eu acho.”


Cocão Pintor - Culturas do Ceará e Culturas do Cariri Cearense

Transcrição

“Eu faço criação em quadro coisa que não tem no mundo. Eu pego uma tela, mando você fazer um risco e do risco eu faço qualquer coisa. Eu tive uma ideia de fazer aquelas coisas que eu sabia que não ia ter outro. Queria fazer um negócio diferente. Eu só faço o que não tem. É da imaginação só. Tinta, pincel e mente. Então, eu não tenho computador, não tenho nada, não tem estúdio, não tem cavalete, não tem nada. Eu faço é a suor mesmo. Eu sou do Cariri, eu sou daqui do [sic]. E o Cariri tem muito folclore, essas coisas, tem muita coisa de se ver, essas coisas… Banda [sic], Reisado, esses negócios. Antigamente, aqui… Você já ouviu falar no “Caldeirão da Santa Cruz do Deserto”, onde teve o beato José Lourenço? Era que nem o Antônio Conselheiro, ele queria fundar uma, uma vila e bombardearam aqui na serra, aqui. Então, a igreja é mais ou menos naquele estilo. Mas ele não é fotografia, não é nada, é coisa de cabeça. E é diferenciada. Ali é como se fosse uma quermesse numa vilazinha, num lugar… Todo lugarzinho no interior, assim, tem uma igrejinha, tem uma capela, tem um pau de sebo. Tem muita coisa, tem cabaçal, tem tudo. (…) O boizinho, né? É o Mateus! É uma espécie de um cara cômico, assim. Ele é branco mas através de carvão, faz aquela tinta de carvão, só não pinta o olho, mas o resto. Aí tem um chapéu ornamental grande na cabeça, afunilado, com a ponta pra cima. Coisa do Cariri, do Cariri cearense, né? E, o meu trabalho não é esse negócio de artista. Eu não sou artista plástico. Eu sou pintor de igreja… Esse negócio de artista plástico não é comigo não. Eu sou pintor, sou um pintor geral. Eu pinto casa, eu pinto automóvel, eu pinto… Meu trabalho é esse. Eu não me considero um artista plástico não.”


Danny - Carolina Maria de Jesus

Transcrição

“Tirei minha inspiração porque eu li um livro dela, o ‘Quarto de Despejo’, que é a história da vida dela, que ela morou na década de 1958 na favela do Canindé. E a história dela é uma história real, que aconteceu. Quando a gente fala em história, a gente… Está interligada à história da mulher. Porque a nossa história, ela vem ser legitimada a partir de agora, no século XXI, pelos historiadores, por pensadores, jornalistas. Então, só agora, que foram produzidas, de um tempo para cá, acho que de uns vinte anos para cá, foram produzidas a historicidade da mulher. Então, a gente tem que cada vez mais reafirmar isso, que faz parte também, da história de gênero, que está ligada a isso. Interligada à questão da modernidade, que essa mulher que eu me inspirei, ela é uma mulher, que para a época, por ser mãe solteira, os padrões, naquela época, era muito julgada. Não só por ser negra, mas também por ser mãe solteira. Por isso que eu fiz essa obra. Para agregar valor à história das mulheres. Essas cores fortes, até um tom de rosa, meio marrom, porque é mesmo para mostrar que aquele lugar é vivo, porque eu pintei o quarto de despejo, pintei a favela, né.”


Deraldo - O Acidente da Samarco - Mariana-MG, e A Defesa dos índios pelas suas terras

Transcrição

“Esse acontecimento foi, foi em Minas Gerais. Eu fiz a obra, assim, pelo pensamento. Eu senti, assim, uma tristeza por causa deles lá e fui fazendo. A ideia motivou quando eu vi aquela tragédia. E… Foi uma ideia, na minha mente, e fui fazendo. Eu usei a memória pra fazer ela, assim, com a maior calma, assim, para poder ver os acontecimentos. A represa estourou lá e o barro foi, desceu tudo para baixo, nas casinhas, foi levando tudo embora. Eu fiz todas as pessoas lá, apavoradas, eu desenhei tudo mais ou menos assim, a tragédia de Minas Gerais. Essa ideia foi minha mesmo, eu não copiei de nada. Eu mesmo faço a minha pintura, vem pela cabeça, né. (risos) É, os índios… invadiu a fazenda, os fazendeiros lá. A terra dos fazendeiros. Aí, os índios, mandou eles voltar de barco porque não ia sair de lá não. Já, tinham armado duas cabana lá, já. Falou ‘não’, mandou eles ir embora. Diz que não ia entregar a terra não. Porque esses, os índios, os fazendeiros tomou a terra deles, aí os índios resolveram invadir a fazenda deles. Os índios tem que ter terra, tem que viver, né.”


Dulce Martins - O Petróleo é nosso

Transcrição

“Esse quadro, ele foi encomendado na época, assim há um ano atrás, porque ia ter uma exposição aqui no sindicato metalúrgico a respeito do dia do trabalhador. E um colega meu pediu se eu não tinha nenhuma obra que representasse o trabalhador e tal. Aí estava nessa questão, justamente no auge desse negócio da Lava Jato, do petróleo e tal. Aí eu tive a ideia de usar esse tema aí, entendeu. No final, não houve a exposição (risos), aí o quadro ficou comigo, eu fiquei com o quadro. E essa obra até – eu vou te dizer -, meu marido ele trabalhou na Petrobrás, né. Aí ele também falou: ‘Poxa, faz um… Agora está essa questão, a gente está passando esse sufoco aí na Petrobrás e tal.’ E foi o que eu fiz, entendeu. Eu costumo, assim, como eu posso dizer… Alguma coisa que eu viva, que eu participe, que acontece no meu meio, no meio do social, eu procuro representar.”


Eduardo S. Faria - Via Sacra e Procissão do Sr. morto

Transcrição

“Bom, a gravura, ela começou meio que por um acaso. Eu procuro sempre buscar vários meios de informação, várias informações artísticas, eu procuro explorar vários campos, e a gravura é mais um. Eu me adaptei muito a ela, né, mas do meu jeito. Do meu jeito como? Eu busquei materiais alternativos, ferramentas. Busco mais é… uma coisa mais simples de fazer. Não aquela coisa complicada de você tem que comprar tudo, fazer. Não, eu busco o que eu tenho em mãos. Tanto que eu sou autodidata em gravura, eu não tive curso de gravura. Eu apenas a conheci no meio das artes. Agora, com relação ao tema sacro, eu gosto muito de arte sacra, então eu procuro sempre num trabalho meu, buscar a área da religião, seja ela qual for. Então, a Via Sacra para mim, ela é, é muito importante, né. Acredito que para todos nós. A Paixão de Cristo, né. Ela nos remete a uma reflexão da vida, e enfim. E a Procissão do Senhor Morto, sempre passa para a gente uma reflexão. E como eu moro perto de uma igreja, todo ano tem a Procissão do Senhor Morto, e eu, minha esposa e minha filhinha, nós acompanhamos ela. Então, faz parte de mim, faz parte da minha vida todo esse tipo de trabalho que faço.”


Eduardo Ver - O Falo a Torre Exu é Mojubá, e Meu Corpo Meu Templo Território Consagrado

Transcrição

“O pensamento é sempre, do meu trabalho, é de tocar o coração. É a forma que eu encontrei de fazer política, e de falar sobre, sobre os assuntos do cotidiano. ‘Meu Corpo meu Templo Território Consagrado’ surgiu de uma reflexão que eu estava fazendo sobre igreja, sobre fanatismo religioso. E pensando no corpo como… A igreja é o nosso corpo, é o nosso templo, né. Deus habita o nosso corpo. E partir desse princípio, assim, né. De pensar que se você preservar o seu corpo, e preservar sua mente, você vai estar reverenciando a Deus. Você não precisa estar basicamente dentro de nenhum espaço, reservado para isso. Eu, observando os símbolos, assim, em diversas religiões, diversas manifestações artísticas, e manifestações humanas mesmo, a simbologia é meio que universal assim, a gente se comunica com o símbolo a todo o tempo. (…) Eu sou apaixonado pelos Exus, assim, tenho uma admiração muito grande. E eu pensei numa torre que era o falo, e dentro do falo estaria tendo várias situações com o Exu. Exu está em festa. Então a ideia veio em fazer uma homenagem mesmo, assim, onde tem os Ogans tocando para os Exus, tem uma mulher que abre, assim, a… Essa fertilidade, que abre o caminho para os labirintos, que é a vida. E a torre é ascensão mesmo, pegando o alto da torre como um ser humano o mais consciente possível. As cores dessas gravuras foram cores bem pensadas. Na de Exu eu quis fugir um pouco do vermelho e preto, né, do Exu, e coloquei um azul de fundo, para dar um pouquinho de calma. E o ‘Meu Corpo meu Templo’ as cores também… Eu achei que são cores calmas, que eu coloquei um tom de rosa, assim, tranquilo, porque rosa acalma também. E rosa é a cor das crianças.”


Efigênia Rolim - Bugiganga leva sua canga e Rei Florenço na Floresta

Transcrição

“Bugiganga, é, foi criado num momento… É que eu vi que nós somos grandes produzidor de lixo, né. Nós produz muito, muito, muito lixo. E nós não sabemos como que consume, né? Então, nós… O leite, é muito gostoso na hora que está na caixinha, né. Depois tira da caixinha, não sei o que vou fazer mais com a caixa, né? Então a gente criou, por causa das embalagens, e trabalhar, fazer um, fazer um boneco. Esse boneco ainda não tinha sido criado, ainda, ele estava no útero da mãe ainda, né. Da mãe terra, né. Então, aí eu, eu juntei as duas caixinhas e fiz um… Olhei nele assim, e tava parecendo, é o que que eu vou fazer, é o ‘Bugiganga, pega suas canga e vai para a cidade, fazer amizade, não fica contente. Todo mundo é diferente, gente diferente, sapatinho de saco, engravatado.’ Um falou: ‘Oi? Vamos virar para o outro lado, estamos no caminho errado.’ (risos) Rei Florenço na Floresta ele estava na floresta fazendo festa, de repente, roubaram. Aí, ele tirou o capacete e pendurou numa árvore, e daí, de repente, alguém chegou e falou: ‘Oi… Tem?’, né? Pegou no capacete e roubou o capacete. Foi embora. E ele começou a falar: ‘E agora? O que que eu faço?’. Então, o pessoal foi na floresta – estavam fazendo festa na floresta -, tinha uma embalagem de… Tinha tomado muito vinho, né? Então, tinha um suporte de garrafão lá, uma embalagem de garrafão de vinho, e falaram: ‘Não, não tem problema. Nós fizemos outro, né.’ Aí começaram a reciclar e começou a fazer a confecção do capacete do rei. Então, começou a minha obra por um papelzinho de bala, né, que eu achei na rua, ali na Boca Maldita, na… perto do bondinho. Então, aí, pelas pequenas coisas, é… As palavras falam assim, né, as palavras: ‘São das pequenas coisas que se fazem grande.'”


Eli Bacelar - Bar do Forró e Zilda da Sanfona

Transcrição

“É um tema que eu desenvolvo há muitos anos, há vinte anos mais ou menos, em que esse tema, eu sempre estou repetindo ele, com cenas, com outras formas. Por exemplo, o colorido dele, com outra perspectiva, sempre um quadro é diferente do outro. Mas eu uso sempre o mesmo tema, certo? E de lá para cá, eu tenho desenvolvido ele em série. Porque é um tema de alegria, né, e que retrata o cotidiano popular, e desenvolve cenas que nunca são iguais uma à outra. Quando eu pinto outro quadro que tem cenas como essas, sempre tem um ângulo diferente, sempre os músicos estão com uma expressão diferente. Ou seja, dependendo da arte naif, já é uma coisa mais chapada, é mais resumido. E… Mas eu tenho feito eles com expressões, porque já não é a coisa do naif, né, você botar expressões nas pessoas, dizer o que as pessoas estão fazendo. Então, eu tento, mostrar essas cenas de forró de vários ângulos, certo?”


Eliana Martins - Periferia e Funk da Periferia

Transcrição

“Eu fiz um quadro maior do que aqueles, falando sobre um morro que tem aqui, que chama Morro do Papagaio. Toda vez que eu saio da minha casa eu passo por esse lugar. Então, eu fiz um quadro de três metros e noventa, e fui tirando desse quadro pedacinhos menores, como esses quadros que estão aí, estão falando sobre o que acontece, o que eu sinto que acontece na favela, que seria, apesar da pobreza e da tristeza, eles são alegres, então eles dançam, se reúnem em praça… Chama ‘Funk’ um dos quadros. E o outro é mostrando onde tem o comércio e os carros, que tem uma BR que passa na frente, que chama Avenida Nossa Senhora do Carmo, então passam os carros na frente, e um comércio com pessoas, assim, inclusive tem uma das casinhas que tem uma laje, que tem uma pessoa tomando banho de laje, e as minhas figuras elas se movimentam. E eu acho mais importante as figuras se movimentarem do que terem traços, né, olho, boca. Então você vai ver que tem roupas penduradas, é como se você tivesse vendo mesmo um lugarzinho na favela. Agora, as cores você vai notar que elas tem muita cor vermelha, tem muitas cores, mas ao mesmo não tem essa exuberância de cor que tem os trabalhos naifs. Então, o meu quadro ele é um pouco mais escuro, talvez é, em contraste do, das cores vivas que são alegria, com um pouco de tristeza.”


Estrack - O Valor da Estrada e Peso dos Ares

Transcrição

“Eu vi uma avião passando aqui perto de casa, baixinho aqui, em casa aqui, né. Aí eu olhei bem e aí pensei e pus na minha cabeça. Aí eu falei: ‘Caramba, acho que vou fazer um avião desse daí.’ Aí, pensei uns quatro, cinco dias, o que eu ia fazer. Falei: ‘Seja o que Deus quiser, vou fazer eu.’ Aí eu fui e já comprei o material e comecei a armar ele, né. Armei ele, tudo certinho, serrei ele, tudo na medida certa, aí coloquei no painel, aí que eu fui parafusar ele, né. Aí depois de parafusado, e tudo certinho, aí eu fui lá comprei a tinta. Fui na calha, mandei fazer o funil, aquele rabo, aquele traseiro dele, sabe o que que é, né? Aí eu coloquei nele, eu pintei tudinho, certinho. Aí mandei por vidro, fui lá na vidraçaria, medi certinho, o rapaz cortou o vidro para mim certinho, coloquei. (…) Bom, a carretinha eu fiz dela todo, todo o desenho, né. Eu desenhei ela no papel, a gabina, depois que eu desenhei a gabina, tudo certinho, aí eu cortei a madeira. Aí eu cortei a tábua, aí eu parafusei. Aí eu caprichei no painel dela. Aí fechei ela, então eu fiz a carroceria. Fiz a carroceria, pintei tudo certinho. Só que muita gente gostou do meu serviço, viu filha. A maioria, todo mundo gostou do meu serviço. Porque é um valor que a gente tem na esperança da vida da gente.”


Euclides Coimbra - Fanatismo quase religioso

Transcrição

“O meu quadro expressa o que eu sou, né. Aliás, corinthiano, né, se não eu não teria essa forte emoção para pintar a tela. Eu, o que eu senti quando eu me expressei, entendeu, eu falei: ‘Eu vou pintar a torcida do Corinthians, porque a torcida do Corinthians é algo impactante, no brasileiro, né.’ Eu sinto que é um tema forte, né, a torcida do… Corinthians, porque se torna um fanatismo muito, muito forte. Então, eu quis expressar. Eu, praticamente, eu expresso nas minhas obras o cotidiano do dia-a-dia, né? E eu sou apaixonado por… pelo fato do ser humano se empenhar em torcer tão profundamente por uma causa, né. Então, eu tentei me expressar no quadro a esse respeito. Não é nada pessoal, né, mas é uma admiração que eu tenho pelo fanatismo da torcida. Gosto muito de satirizar também, de brincar com os meus trabalhos. Se você reparar bem na minha obra tem o… o papa no meio da torcida, tem o ex-presidente Lula e a presidenta Dilma também, no meio. É uma brincadeira que eu fiz no momento. Minha obra é uma obra espontânea, né, naif.”


Fernando Doria - A Morte de Jesus

Transcrição

“O tema religioso, ele é um tema que ele é recorrente no meu trabalho. Ele sempre aparece de um modo ou de outro, ou com essas figuras mais marcantes como Jesus, tal, ou às vezes aparece os anjos… E ali o que eu fiz? Ali eu fiz uma narrativa da morte de Jesus, e uma coisa, assim, simbólica, que tem os quatro evangelistas na volta, do lado de Jesus sai aquele rio de água, vamos dizer assim. Por quê? Porque também a narrativa do próprio Evangelho, da crucificação, que diz que do lado dele verteu água e sangue. E ele está montado, ele está posto sobre a cruz, e essa cruz se torna uma árvore, que também é toda uma tradição da Igreja que diz que a cruz é a árvore da vida, é onde nasceu a salvação. Então por isso que eu fiz essas raízes nos pés. E essa água que sai do lado de Jesus Cristo, flore a terra. Que era uma terra não fértil, uma terra seca, tal, então de repente, dali nascem flores, retoma a vida. E é justamente onde está a serpente, que significaria o contrário da vida. E ela está nos pés, com a narrativa que é posta ali, ela está nos pés justamente tentando alcançar a vida e acabar com a vida. E isso também é uma colocação que a Igreja Católica tem. Então, eu, na verdade, eu fiz dentro de um conceito da Igreja Católica também.”


Geo - Ex-votos e Favela

Transcrição

“Na verdade, o meu forte é a questão da cultura popular. Eu faço uma pesquisa, vou in-loco, visito os mercados, os santuários. Vou muito a Juazeiro de Padre Cícero, que é um grande centro de referência da cultura popular, dos ex-votos, da devoção, muitos romeiros… E eu tento passar para o bordado essa questão, essa leitura de como eu vejo o sentimento religioso, as pessoas pedindo, fazendo promessas… É muito comum aqui na Paraíba a gente andar pelas rodovias e encontrar nas beiras das estradas, os santuários onde as pessoas depositam flores, acendem velas, em devoção ao imaginário, à pessoa que morreu, ao santo de proteção popular. (…) Na verdade, eu acho que a gente, assim, eu não tenho nenhuma coisa já pré-estabelecida, eu vou bordando, eu vou re-aproveitando os retalhos. E eu fui colocando e aí foi surgindo os casarios – que também é muito comum aqui a gente passar nas beiras de estrada e ver os casarios, as casinhas pobres de porta e janela, onde as pessoas ficam debruçadas, olhando a rua, olhando os filhos que brincam do lado de fora. E são casas conjugadas, né, tem uma relação muito afetiva. E eu sou de uma cidade de interior que as casas eram todas juntas, e as pessoas ficavam nas portas, nas janelas, os filhos a brincar. Como é um bordado que você vê ele, eu fui sobrepondo as casas, umas em cima das outras, daí veio a ideia de ser uma favela.”


Goya - Festival na Liberdade

Transcrição

“Como eu sou japonesa – e eu vim criança de lá do Japão, né, eu vim aos nove anos -, daí, como todo ano tem festival lá na Liberdade, então aonde eu peguei e falei ‘Bom… ‘. Apesar que… Aqui no Brasil é tudo cheio de raça, então por isso que eu coloquei, que a gente vai lá e a gente vê que são todas as cores que estão lá, né. Tem uns moreninho, tem uns loirinho, tem os japoneses. Se você vai lá na festa da Liberdade, que vai ter de todos. E aí eu fiz da Liberdade porque… por causa… Como matando a minha saudade do Japão. Eu queria que a turma percebesse que aqui no Brasil é multicultural, né.”


Gustavo Ansia - Transgressões 1 e Transgressões 2

Transcrição

“Eu escolhi esse tema a partir de algumas vivências que eu tenho nas ruas, e eu tenho observado bastante pessoas que tem se livrado ou tentado se livrar desse plano terrestre, de se esquivar, do que o sistema não pode interferir de alguma forma. Dessa parte ‘Transgressores’, foi muito além do que, do que a lei que a gente vive pode interagir de uma maneira que a gente consiga parar de fazer o que a gente ama. Então, ‘Transgressores’ eu quis considerar essas coisas que o homem tem passado na terra e tem tentado deixar de lado esse sistema e essas leis que o governo tem nos empregado viver de uma maneira confortável para eles.”


Hebe Sol - Encontro do Rio Negro com o Rio Solimões em Manaus/Amazonas

Transcrição

“Manaus é a capital do Amazonas, e tem uma peculiaridade, né, porque tem, em frente à cidade, um encontro de dois grandes rios, que tem cores diferentes, um é muito escuro e o outro é bem amarelado, assim, quase da cor do barro. Além de, dessa obra da natureza que é o encontro das águas, Manaus é uma grande cidade no meio da maior floresta do mundo, maior floresta tropical do mundo. E, por ser cercada a Floresta Amazônica por todos os lados, ela também é cercada de sua grande biodiversidade. Então, na verdade, esse jacaré aí, ele representa toda a biodiversidade da Amazônia. Então, ao mesmo tempo que a gente tem toda essa grandeza da floresta, essa tradição cultural, e até hereditária indígena, a gente também tem uma grande produção tecnológica no Estado. É quase um confronto também, entre a natureza e a produção humana. É o encontro disso. O quadro, ele meio que celebra isso. Celebra essa questão da… do encontro. E para marcar bem esse encontro, nada melhor do que o encontro das águas, que quem teve a oportunidade de conhecer o Amazonas, é algo que é inesquecível, é uma coisa grandiosa.”


Ivone Bova - Congada

Transcrição

“Então, o meu sentimento com a arte, eu gosto de muitas cores em tudo o que eu faço. No crochê, na bolsa, em tudo eu gosto de colocar muita cor. Eu nasci na roça, né, trabalhei na roça até os dezessete anos, e aí eu conheço muito de… da fazenda. Eu tenho tela que eu pintei a fazenda que eu morei. Eu tenho tela que eu fiz os retirantes vindo do nordeste, com, bem magro, um boi esquelético no chão. Eu tenho violeiros. Eu fiz sanfoneiros. E nesse momento, o que me inspirou a ‘Congada’ foi aquela carreira do Divino que vem no Natal, né, frequentando, visitando a casa da gente. Aí eles chegam, cantam, se apresentam. E toda vez que vem, eles tem essas roupas coloridas. Aqueles que são as pessoas organizadores tem uma roupa um pouco diferenciada, mas eles vem com bandeira, com pandeiro. Traz a bandeira do Divino para a família fazer os pedidos nela. Aí a família deixa uma fitinha de lembrança na bandeira, deixa uma fotografia, por um pedido que ela faça, né. Então, essa história eu vivi. E aí, então me remeteu a reproduzir essa Congada, né.”


Jean Zuqui - Sacirupiraboitatácapixaba e Francisco Passo a Pássaros

Transcrição

“É… Eu sempre fui apaixonado pela criatura Saci-Pererê, e eu aproveitei a ocasião para juntar as três, mais outras duas criaturas, que é o Curupira e o Boitatá, que no meu entender, eles protegem… Uma vez que eu não acredito na proteção humana com relação à esse desastre que a gente está fazendo no meio da natureza. É uma maneira muito inocente minha de acreditar que essas criaturas, o Saci, o Boitatá e o Curupira, possam ainda proteger a natureza. A gente vive aqui num meio, né, bem… A gente vive no meio da natureza, estou falando eu e a minha esposa, a gente mora no meio… A gente tira a madeira do meio, madeira que já está morta, e aproveita para dar vida a essas criaturas. Então, inocentemente a gente acredita que elas possam dar um recado para o ser-humano, né, para o homem, dessa questão do desrespeito com a natureza. No mesmo sentido a outra obra, nada mais, nenhuma figura nesse mundo, humanamente falando, respeita mais a natureza que a figura do São Francisco de Assis, que é uma pessoa que a gente tem o maior respeito hoje. E ele também, ele também foi um escultor, ele criou. Ele também foi artista. Então, para mim, essas duas criaturas que a gente…, que estão aí em Piracicaba, que a gente criou, elas tem essa questão da liberdade, da inocência, e uma resposta a essa…, esse desastre que nós estamos fazendo com a natureza.”


Jeferson Limas - Manifestação na Paulista, e Contra o Aumento da Tarifa de Ônibus em Goiânia

Transcrição

“Eu comecei a pintar esse ano. Eu preferi esse tema porque eu sempre tive vontade de pintar uma coisa assim e expôr. Uma coisa que revelasse mais, mostrasse mais o que o brasileiro ele está passando, a realidade. Porque as duas assim, mesmo sendo de manifestação, as duas assim, elas tem um ponto bem distinto, porque a do Brasil ela meio que envolve o Brasil inteiro. O protagonista da imagem, da tela que é da manifestação da paulista, está escrito que ‘Brasil tu és o futuro’. Eu quis mesmo é expressar essa… É… espelhar o futuro do Brasil, porque eu acho que ele tem um potencial em ser grande, não também no mundo artístico, como também no da educação. E eu queria mostrar isso também, porque eu sinto falta disso, principalmente aqui em Goiânia, de arte e essas coisas. Então, eu acho que é uma forma também de abranger a arte, entendeu? Aí eu peguei um tema que tava mais generalizado e eu coloquei. Eu comecei a pintar e aí foi surgindo. É… o que eu quero mais é que as pessoas olhem para as minhas obras, é que elas sintam aquilo e que elas de algum modo entendam que aquilo lá é uma realidade do Brasil, e que elas possam também liberar aquilo que elas estão sentindo de revolta, indignação, pra poder falar a verdade.”


João Generoso - Retrato Lambe, Lambe I e II

Transcrição

“Eu sou aqui do Vale do Ribeira, eu me criei no Vale do Ribeira, interior de São Paulo, né, litoral paulista. E nós tínhamos sempre, quando crianças, a gente via aquela, na praça – eu nem sabia o que era aquilo -, as pessoas tiravam fotografias. E aquilo era, para mim era uma curiosidade ver como a foto… Eu nem imaginava o que era foto, né. E via aquela lâmpada que queimava quando saía, saía as fotos. E eu fiquei muito curioso com aquilo. Depois, mais tarde, quando eu vim para a capital, eu percebia que nas praças existia esse modo de fotografar, assim, tipo, rápido, chamado – eu vim saber que era o tal do “lambe-lambe”, né. E com o tempo passando eu fui desenvolvendo trabalhos de arte, mais na parte primitiva, né, naif e tal. E especialmente os últimos anos, aí uns dez anos, eu venho trabalhando muito com essa ideia de falar sobre o povo, sobre o que acontece no cotidiano, né. E aí me voltou, veio à memória de novo esse tempo, de criança, né, que eu via essas fotos. Foi um trabalho que eu desenvolvi com cimento na areia, formando esse volume, né, dessas máscaras, vamos dizer. E a coloração que coloquei nelas que é a técnica da encáustica.”


João Marciano - Mulher na rede

Transcrição

“Na realidade, eu trabalho muito com essa temática do figurativo, eu gosto muito, né. Figuras humanas, né. Então é um tema bem comum aqui da região, as pessoas às vezes terminaram de almoçar, à tarde, deitar numa rede e descansar. Então, tem muito a ver com isso aqui, com a nossa realidade aqui. A mulher, né, ela, no meu ver, ela tem assim, esteticamente, ela é um tema já foi muito batido na história da arte, mas ela esteticamente é mais, foi mais apropriado para o tema do que se eu tivesse botado uma figura masculina. A minha ideia mesmo é trabalhar, o tema ele não é muito apropriado, é mais a pintura. O que eu quero mesmo é que as pessoas observem a pintura, o trabalho, está entendendo? A forma como foi trabalhada a tinta e tal. É isso que eu gostaria que as pessoas observassem.”


João Natal - Prateleira de Gestos

Transcrição

“Essa obra é um trabalho que eu venho desenvolvendo já há algum tempo, essa temática, né. Porque eu trabalho um pouco com série, com temática, e é uma temática dos gestos do povo brasileiro. Gestos… Expressão popular, expressão das pessoas, né. De um modo geral, há uma questão no Brasil de que as pessoas não falam sem gesticular, né. Sem movimentar os braços, as mãos, enfim, sem gestualizar. Então, aí é um pouco isso, um conjunto de gestos, que são utilizados em diversas situações, em diversos… do povo brasileiro, né. No caso aí, eu fiz um conjunto misto, e coloquei o nome de “Prateleira de Gestos”. Uma maneira de trazer um conjunto e colocar à disposição também das pessoas, né, no momento atual, que nós estamos precisando de gestos, a exposição desses gestos que nós já temos na tradição cultural aqui do Brasil. O material também é todo feito em madeira, mulungu, é uma madeira tradicional aqui do nordeste, em que se faz o mamulengo, o teatro do mamulengo, o boneco, por ser uma madeira leve, e que está hoje em extinção. Mas é uma madeira muito apropriada para esse tipo de trabalho, né, de esculturas populares. Então, basicamente é isso o trabalho. Tem aí alguns gestos de mãos, apenas de mãos, né, eu registrei uma sequência de gestos de mãos, que está exposto aí na Bienal.”


Jofersant - Jardim do Éden II e Os Irracionais na Graça do Grandioso Zôo de São Paulo

Transcrição

“Esse ‘Jardim do Éden’ foi um dos três ou quatro quadros que eu pintei, o primeiro ‘Jardim do Éden’ que foi esse aí. Aí, como tem esses animais, tem tudo aí, eu fiz esses, essa pintura tudo. E eu falei assim, lá no escritório aqui do Centro Cultural de Diadema, disse ‘Jardim do Éden’, e falou ‘Ô, mas está parecendo o jardim do Éden mesmo’, e ficou aí Jardim do Éden. E no meio eu plantei uma macieira, para parecer bem com o jardim do Éden. (…) Esse outro foi assim, foi a minha professora que ajudou a pensar. E aí ela falou: ‘Faz um quadrinho e coloca os animais. Zebra, outra coisa, e tal… Vai colocando zebra, elefante, vai fazendo outros… Como muitos pintores fazem.’ Eu falei: ‘É… Fica um negócio assim muito assim… chulé, não fica muito bom.’ Não, eu falei assim: ‘Só se eu pintar um zoológico’, eu falei. E o jardim zoológico é esse aí. E aí eu coloquei o nome ‘Os Irracionais na Graça do Grande Zoo de São Paulo’. E foi isso aí. Então, eu vou pintando. Esse nome dele, de pintar os animais é o seguinte, eu já matei muito animal. Eu nasci na Bahia, eu sou bahiano caipira lá da Bahia, da… Porque eu costumo dizer para a minha esposa, que ela é do interior e chama do interior de ‘caipira’, mas na Bahia chama de ‘matuto’. Matuto e caipira é a mesma coisa, eu sou um caipirão, mais do que do interior de São Paulo (risos), porque eu nasci lá em cima da serra. Eu matei muito animal, caititu, tatu, esse negócio… E eu, sei lá, tanta dó, menina das pessoas que matam os animais… E por isso que me vem essa ideia, né. Eu faço, defendendo os animais.”


José Carlos Monteiro - Figureiro Geraldo "Tartaruga"

Transcrição

“Na verdade, quando eu comecei a pintar, a gente não tinha muita opção de material, né? E a gente também não tinha possibilidade de estudar sobre desenho, sobre pintura. Foi aí então que a gente fazia aquilo que a gente sentia, tentando transpassar aquilo que a gente via, a emoção da gente, e preservar o que tinha na… nessa época, né. Então, eu queria registrar esses momentos, das coisas que tinha na minha cidade, São Luís do Paraitinga, que seria os casarões, a parte do folclore. (…) Essa obra do Geraldo, eu sempre fui amigo dele, queria bem ele. E ele, aqui, eu entendo o seguinte, que ele é um dos últimos figureiros daqui da região de São Luís do Paraitinga, né. É que, antigamente, as pessoas eram analfabetas, né? E esse trabalho dele era tipo de um livro, um tipo de um registro, porque ele ia contando as histórias – ele, o irmão dele -, através do… das figurinhas de barro, ele não deixava no esquecimento as histórias, né, contadas pelos mais antigos. Então, através da figurinha de barro ele ia contando suas histórias, e colocava na cambuquinha, né, e deixava ali guardado. Passado algum tempo, é… eu acredito assim, que as pessoas iam perguntar para ele: ‘Você soube de tal causo?’. Daí ele ia lá, e falava assim: ‘Ah, eu sei, fi.’ E para ele relembrar, ele olhava naquelas cambuquinhas, com aquelas figurinhas, e ia recordando tudo aquilo que ele ouviu falar de outras pessoas. E ele começava a contar então, aquilo que estava na cambuquinha, que ficava registrado no lugar dos livros. Porque as pessoas, naquele tempo nem tinha mesmo livro, né. Então achei muito importante mesmo esse trabalho que ele fazia, e eu procurei também registrar esse trabalho dele na tela.”


José Fernandes - Chucalhos

Transcrição

“Primeiro, eu fiz um ‘chucalho’, que eu tenho ele ali lá em casa, um ‘chucalho’ igual uma cabacinha, tipo índio mesmo. Sabe aqueles? ‘Tcha, tcha, tcha, tcha’. Coisa de xamã mesmo. Aí eu: ‘Pô! Porque não botar no papel, né, que é um negócio que pode dar certo?’ (…) Eu nasci em Minas, aqui no Morro da Garça. Com três anos, nós fomos para… Meu pai mudou para Mato Grosso. Aí eu convivi com esse povo lá. Gosto muito desse povo. Eu acho eles, é o povo civilizado do mundo, né. Se o mundo tivesse só índios, os rios estariam limpos e as matas estariam no lugar. Eu acho que eles são, eles são os seres superiores. Eles são assim… Porque eu acho que o povo, as pessoas, os seres humanos… Tipo assim, a terra… Eu vou falar assim, faz de conta que eu sou a terra. Eles são os micróbios. Tem os bons e os ruins. Você vê que onde tem aglomera nós, nós brancos, é uma ferida. A cidade para mim é uma ferida, com seus rios que é as veias purulentas. Agora, os índios não. Os índios eles conseguem viver na terra, sem tirar o… a pele dela. Sem sujar os rios dela. Ou seja… Olha só, eu gostaria de ser eles. Eu gostaria de ser eles. Meu sonho era de ter sido índio, entendeu. (…) Eu acho que o mais importante desse estilo é a liberdade. É a liberdade de expressão, a liberdade total. Não existe preconceitos, não é? De aquilo está disforme, que aquilo está com sombra, que aquilo está desfocado. Quer dizer, é uma coisa livre. Você faz e é isso aí. Que é livre. É livre. É liberdade.”


Juliana Scorza - O Universo de Caymmi e Jorge Amado

Transcrição

“Então, esse trabalho que eu fiz, chama ‘O Universo de Caymmi e Jorge Amado’. Como eu lia muito Jorge Amado, assim, e ouvia Caymmi, gostava, então eu fiz esse trabalho baseada, assim, nos livros do Jorge Amado e nas músicas que o Caymmi canta, né, que é o cenário da Bahia mesmo. Sabe aquelas casinhas? Então, é como se fosse várias cenas de casas, assim. O puteiro… Daí tem uma história do livro ‘O sumiço da santa’ que eu conto também… Então, esse trabalho é inspirado no universo de Jorge Amado e Caymmi. E também dentro disso tem uma foto, assim, que eu coloquei, que é uma montagem de uma foto minha no centro do Caymmi e do Jorge Amado, pegando no braço deles. E, como se… E eu também tenho uma linha de fazer… retratar histórias minhas, né? Então, tem… eu estou inserida na obra também, como se eu estivesse nesse cenário. É tudo espontâneo, eu não fico pensando assim: ‘Ah, vou por verde pra contrastar, para dar o contraste com o azul.’ Não. É tudo, eu vou pegando a tinta assim bem, bem nervosa mesmo, vai pegando a tinta, vai passando. Aí sai. Porque sai, assim, tem uma… tem sintonia as cores, só que é espontâneo, não tem estudo para isso não, vou pintando, vai saindo.”


Juventino - A pescaria dos sacis

Transcrição

“As cidades da minha região, ainda apesar de seu desenvolvimento tecnológico, é uma cidade ainda meio primitiva, conservadora nas suas tradições, e por isso eu tentei retratar o saci como algo também da infância, que eu assistia o Monteiro Lobato, o Sítio do Pica Pau Amarelo, na TV Globo. Então é uma reminiscência da infância também. Então, eu fiz esse trabalho para me ajudar a despertar o interesse das crianças, porque nós temos muitos, hoje, heróis internacionais no desenho animado. Esse resgate é para que não se perca a cultura popular. Bom, na realidade, a técnica foi porque eu queria fazer uma coisa mais rápida, a secagem mais rápida, então a acrílica, né. Mas eu estou pintando a óleo também, tenho pinturas a óleo também. E na realidade, eu utilizo um pouco, às vezes, a tinta de tecidos, para tecidos também um pouco, eu faço uma técnica mista.”


Keila Shinkarenko - Vendo o trem passar, e Irani e o Gaúcho

Transcrição

“Aquela ‘Irani e o Gaúcho’ foi assim, como a gente mora em sítio, né, e o meu marido é um apaixonado por cavalo, e tem também a charretinha dele, né. Então, eu trouxe para a telinha, para a tela, né, essa nossa realidade. Então, eu coloquei a charrete do meu marido, coloquei ele lá também, e os nossos animais. Então é assim, a nossa vida, né, aqui no campo, que a gente gosta muito de viver assim, aqui, sabe? Então, foi isso, e aí eu coloquei esse nome para homenageá-lo, né. ‘Irani e o Gaúcho’. O Gaúcho é o cavalo do meu filho. Bom, aí a segunda que é ‘Vendo o trem passar’, né. Então, eu me transportei para a minha infância. Eu passava… A gente ia para a casa da minha vó uma vez por ano, né. E lá a gente, realmente tinha a linha do trem, e a gente ficava vendo o trem passar. (risos) E, então, aí eu fiz, a estaçãozinha, as pessoas lá esperando, e… a menininha ali com a sua bicicletinha na cerca, vendo o trem passar. Então, é uma coisa assim, para mim tem um valor grande, né, porque é a infância da gente, uma coisa que marcou tanto. E aí foi muito, assim, gostoso de participar disso daí.”


Laercio - O Caçador

Transcrição

“‘O Caçador’…  Eu pego um toco, uma coisa qualquer que eu pegar na mão, então eu transformo ela. Agora, quando eu vejo aquilo ali, eu falo: isso aqui eu posso fazer isso, daquele outro eu posso fazer aquele outro. Então, eu crio uma história em cima daquilo ali, para ter um fundamento, né. Então, não é para fazer uma coisa e perguntarem para mim e eu não saber contar. Então, eu crio a história do caçador. (…) Eu acho uma peça aí no chão, qualquer coisa, eu olho para ela e eu enxergo o que ela pode representar. Então, é aquela coisa. Eu digo assim, eu fiz essa escultura aí, eu posso imitar, ou então posso fazer no papel, mas igual nunca vou achar outro toco que ajude eu… Porque eu vou entalhando, entalhando, entalhando, mas não é que eu faço… ‘Faça mais um pra mim, igualzinho esse aqui.’ Posso fazer no papel. Mas propriamente um toco assim daquele jeito, que dá condições de eu trabalhar, não é possível mais de a gente encontrar. É madeira própria. Porque tem coisas que a gente usa forma, feito na forma, põe lá, tira o quanto quer. Mas essa minha aí é tudo, é entalhado. Até teve uma época em que eu joguei um monte fora e aí alguém falou para mim: ‘Não faça isso, você está ficando louco.’ E eu falei: ‘Acho que eu estou mesmo.’ Daí ele falou: ‘Mas eu estou falando que você está ficando louco porque você faz uma coisa dessas aqui, um trabalho tão lindo e joga fora. Guarde e um dia você vai expor.’ Aí eu falei: ‘Mas será que esse cara está falando a verdade?’ E ele: ‘Não, não tenho nada a favor e nem contra. Aí o objetivo é seu. Mas guarde que você vai ver um dia você vai lembrar de mim.’ E hoje eu estou lembrando, aqui, olha.”


Liléa Rodrigues - Torre de Paris e Casa do Artista

Transcrição

“É, veio em mim construir uma obra, aí eu coloquei ‘Torre de Paris’ pelo desejo até mesmo de conhecer Paris. Como eu não tinha, assim, eu não conheço Paris, então nasceu dentro de mim um desejo de desenhar a torre. Porque eu já vi a torre várias vezes na revista, televisão. Só que, a minha torre não tem muito a ver com a torre de Paris, mas o sangue que corre nela é o mesmo sangue que corre em todos os parisienses. Uma torre pode abrigar quantas pessoas? Já pensou nisso? E nasceu essa vontade de desenhar a torre porque, ô meu Deus, quanta gente na rua sofrendo! Se eles tivessem uma torre para se abrigar. Aí, desenhei a torre. Você vê que é uma torre diferente, não é? Nem eu consigo fazer mais, nem ninguém consegue fazer aquela torre. (…) ‘Casa do Artista’ solitário. (risos) Solitário, porque ele vive sozinho naquela casinha. Aquela casinha mexeu muito comigo, muito mesmo. Então, assim, eu faço os meus desenhos e eles são mais infantis, e eu gosto muito de casas. Não sei se esse… Não é trauma, mas esse relacionamento com as pessoas de rua é que me leva a fazer as casas, sabe? Esse sentimento, essa força, que às vezes eu não posso levar nada para eles, só a minha presença lá no meio, me deu a vontade de criar casas. Gosto de árvores, gosto de frutas, mas o meu forte mesmo são casas.”

 


Lilian Rosa - A noitinha antes do sol aparecer, e Sábado no Salão "Foto"

Transcrição

“Bom, ‘A Noitinha’, é… eu fiz assim baseada em coisas que acontecem na madrugada, né, que às vezes as mães contam para os filhos, e… Ou a gente, né. Que eu que já sou avó também conto, né. Que à noitinha os anjos aparecem, tanto que tem os anjinhos nos quadros, tem algumas coisas escondidinhas, tem uns alienígenas na parte de baixo, tem uma cobra grande, pássaros. Então, é assim, por isso que até o nome, né, ‘A Noitinha antes do sol aparecer’, porque quando o sol aparece, tudo isso se esvai, tudo isso some. Então foi essa a minha inspiração, de historinhas, ou da imaginação mesmo da gente, né, da infância. Porque a gente traz muita coisa de dentro da gente, quando a gente pinta, né. Quando a gente coloca para fora, e expressa isso através do desenho coisas do cotidiano mesmo. Ou da gente, ou do passado, ou de coisas que a gente continua ainda fazendo. (…) O nome da tela é ‘Sábado no Salão – Foto’, e é como se ela estivesse posando para uma fotografia. E ela, de repente, é uma cliente assídua ali no, ela vai direto, então ela tem essa intimidade de tirar foto junto com a dona do salão. Então, tem assim uma certa, como que uma certa proximidade entre as duas, uma coisa mais íntima, por isso que é uma foto. E existe essa intimidade entre a manicure e a cliente. Então, foi por isso que eu coloquei foto. Mas é assim, é uma coisa mais assim, bem intimista mesmo, de… do nosso cotidiano brasileiro, né. De você ir no salão todos os sábados. Dar um beijinho e um abraço na pessoa que cuida do seu pé e da sua mão. Existe essa relação meio que de amizade, de muitos anos, entre as duas partes.”


Lourenço Beleboni - A Morte dos Beija-Flores e Gaiola do Amor

Transcrição

“Então olha, essas duas telas, uma chama ‘A Morte dos Beija-Flores’, a outra chama ‘A Gaiola do Amor’, né? Essa morte dos beija-flores foi uma arte que eu fiz quando eu tinha onze anos. Então eu e um colega meu matamos onze… dezesseis beija-flores. Tinha uma senhora que viu, e chamou a atenção nossa, que era muito pecado, que nós ia pagar por isso, tal etc tal. E de fato eu comecei a pagar, a minha vida não foi para frente, dificuldade financeira sempre, por causa dessa morte dos beija-flores. Aí eu resolvi pintar a tela pra ver se toda vez que eu passasse por essa tela eu pedia perdão pros passarim. Mas não resolveu não. Agora, eu fiz a tela ‘A Gaiola do Amor’ pra compensar a morte dos beija-flores. Então, toda a vez que eu vejo a tela ‘A Gaiola do Amor’ eu me sinto mais frutificado pelo pecado que eu fiz quando eu era criança. Essa é a história de minhas duas telas. Uma porque eu matei os beija-flor e a outra que eu quis agradar os beija-flores.”


Luiz Ziul - Série Casulos

Transcrição

“‘Casulos’ vem, do princípio, da palavra casulo, dentro né. Há um ser sob esse casulo, que está revestindo esse ser, que ainda vai nascer, no caso, do casulo. Desse casulo… É relacionado, né. Ele tem uma visão, relacionada, do que vai ser surgido desse ser, que ainda há de vir. A série ‘Casulos’ ela tem como base, principalmente, bem a intimidade, voltada para as artes visuais, que é basicamente o meu conceito, de trabalhar as artes visuais, no caso figurativo, mas tendo como função, principalmente com os traços, que eu utilizo a ferramenta que é a goiva, que é a retirada da matéria, da superfície da matéria, no caso, a madeira. E esse processo de retirada da matéria, da superfície da madeira, surgem as imagens. Utilizando, é claro, as linhas, a qualidade das linhas para dar o traçado, a forma. Linhas grossas, finas, tracejadas. Esse seria o conceito principal da série ‘Casulos’. Da retirada do material surge uma nova imagem, uma nova ideia, um conhecimento voltado para essa imagem.”


M.B.O. - Os Guardiões da Floresta

Transcrição

“Esse eu comecei em 2004, de 2004 para 2005, que eu adoeci aqui em Ubaira, quando teve a tuberculose, aí eu fui para Salvador fazer o tratamento, né? Daí teve a necessidade do tratamento, e eu comecei a tomar o remédio, fiquei logo bom. Aí veio… eu fiquei lá, ficava lá no apartamento de minha filha, lá parado. E aí minha filha: ‘Painho, o senhor tá acabrunhado, que que está acontecendo?’ Eu disse: ‘Nada. Não tem nada pra fazer.’ E aí ela pegou o material e deu pra mim: ‘Ó, o senhor vai fazer isso aqui, vai pintar essas telas, viu.’ E eu pensei, ‘Meu Deus, nunca peguei nem num pincel, vou pegar pra pintar? Imagine isso! Pelo amor de Deus, não leva jeito, não levo jeito!’, ‘Ah, leva jeito! Vai pintar!’. Eu disse: ‘Você vai então me ensinar.’ Ela disse: ‘Não vou ensinar nada!’ Aí, ela saiu, foi pra escola dar umas aulas, quando ela voltou, mais tarde uns dias, já tinha dado umas dez telas, né? (…) No mais eu pego assim e vou, num… vou logo no trabalho, vou criando assim na hora, na memória, né. Eu pego o pincel e vou pintando, aí vou criando um trabalho, né. Uma obra, né. Espontâneo. Espontâneo mesmo, não tem esse negócio de por no rabisco, no coiso não, eu vou logo, já vou logo no, no direto. Diretamente fazendo logo o trabalho, né. Esses guardiões da floresta, os guardiões são aqueles caras que fica guardecendo [sic] a floresta. É assim a coisa mais importante que nós temos no país, é a floresta, né, que infelizmente o povo tá acabando com tudo, não é? Acabando com todas as florestas, Amazônica, lá no Tocantins, queimando, queimadas e outras coisas, né.”


Madriano Basílio - Anjo da Natureza, e Beijo de Adão e Eva

Transcrição

“São dois temas. São dois trabalhos, né. Então, o ‘Beijo de Adão e Eva’, eu quis fazer… A proposta foi fazer as figuras de Adão e Eva, de uma maneira que ficasse bem sensual, os movimentos. E o beijo… O beijo quer dizer sobre o… o fruto proibido do Paraíso, né, do Jardim do Éden. Então, é simbólico, o fruto. Então, eu coloquei como sendo o beijo. E também o Adão como sendo um Adão negro, fazendo um contraste com Eva, com a cor de Eva, que é mais clara. E o outro, o outro quadro, é o ‘Anjo da Natureza’. Eu quis fazer uma proposta de unir o elemento, o ser celestial, simbolizado pelo anjo, com a natureza, que são o tatu e também o camaleão, na composição desse quadro. Então, eu quis fazer essa harmonia entre o céu e a terra, a natureza.”


Manoel Santos - Corre Bichô Si Não a Denguê Ti Pega!

Transcrição

“Sobre a obra, é… eu digo, no meu caso, muita gente me pergunta, tem vários questionamentos, ‘Ah, porque que você não usa figura humana?’. Eu falei: meus bichos representam a figura humana, em todos os sentidos. Então, é uma linha minha, só de fazer animais. Bichos andando de bicicleta, é pilotando avião, é dirigindo carros, tudo eu uso os animais, assim. É uma coisa assim, já é uma coisa de infância, e depois a gente na fase adulta vem dando esse prosseguimento. E uso a parte muito colorida, né, muito assim, muito vibrante, porque é acreditar na vida, nos seres, e um mundo melhor. Essa parte lúdica do meu trabalho, permite expandir em qualquer situação, e como eu tive dengue, ou seja eu senti na própria pele, aí eu resolvi fazer o quadro já por essa questão, e os cuidados, né, de vizinhos, onde quer que seja. Eu até coloquei a situação dos bichos fugindo, né, da cidade, correndo pras matas, correndo do mosquito, né, que é uma epidemia, o Brasil todo e até fora.”


Marby - A florista do cajueiro, e Fundo de quintal

Transcrição

“Eu sempre gostei de pintar. Porque eu faço a obra assim, eu tiro da minha imaginação mesmo, eu puxo da minha mente. Eu tiro da minha mente mesmo. Da minha imaginação, coisas que eu nunca tinha feito, aí eu faço, assim, boto na tela, digo ‘Poxa, eu nunca fiz esse quadro aqui.’ Eu sempre boto coisas, assim, diferentes. (…) Ela estava vendendo flores, ela estava vendendo flores, um monte de caju, uma árvore, né, de caju. Porque eles estão no quintal, eles estão no quintal de um amigo, conversando. A moça sentada em cima, a moça sentada no colo do namorado, e… a outra em cima da árvore, assim conversando. Eles estão num quintal de uma casa. Porque eu escolho pintar dessa forma, porque tem que deixar o quadro assim, com cores, botar cores, colorido. Porque a natureza é colorida. Tem que pintar tudo colorido. Eu me inspiro mesmo é na natureza.”


Maria - Siriri de Mato Grosso I e II

Transcrição

“É igual eu falo, o Siriri foi… É de Cuiabá, de Mato Grosso, é uma tradição mato-grossense, já existe há vários anos, assim eu não sei exatamente há quanto, mas já existe há muito tempo. E assim, eu falei assim: ‘Eu quero fazer uma coisa que, geralmente, que marca o nosso Estado, que é uma coisa regional.’ É uma coisa típica do Estado de Mato Grosso, todos os lugares que vocês vão, é apresentada essa dança. E assim, eu falei, por que não divulgar, né?  E eu me encantei por isso. Eu comecei a bordar, na verdade, por hobbie. Daí eu comecei em 2010, e me apaixonei, porque tem muitas coisas lindas que a gente, né, pode divulgar da nossa cidade.”


Marilena Kaily - Verão em Jurerê I e II

Transcrição

“Eu moro em Jurerê, de frente para o mar. É… Então, daqui de onde eu estou, eu estou vendo os barcos, estou vendo tudo. E como moradora da praia de Jurerê a dez anos, eu vejo o que acontece no verão. E o verão em Jurerê é exatamente aquilo que está no quadro, sem tirar nem pôr. (risos) Então, até um amigo me disse: você devia dar o título de ‘Muvuca do Verão em Jurerê’. Porque se você vier aqui agora, de setembro até dezembro, é essa paz, é um silêncio, não tem ninguém. De vez em quando passa alguém, muitas gaivotas, mas é uma paz incrível. A partir de dezembro isso aqui vira um fervo, um fervo. E o verão em Jurerê é isso mesmo, muitos vendedores, de tudo o que você possa imaginar, as barracas, o som bem alto. Então, é isso que está ali: a banana boat, o jet sky… E eu sou ligada em cores mesmo, para mim, as formas, claro que são importantes, mas muito mais importante que as formas são as cores. Eu vibro com cor, eu… (…) Desde 1972 que eu pinto somente em couro. E no couro, eu passo a mão, é como se fosse continuidade da minha pele, é como se fosse uma tatuagem, porque eu tenho que usar o pirógrafo, e queimar fazendo o desenho. E eu não desenho antes.”


Marilene Gomes - Metrô Barra Funda

Transcrição

“É… Em primeiro lugar, eu sou de Recife, da cidade de Paulista, Pernambuco. E eu me encanto de ver a movimentação dos metrôs, dos trens. Os rostos de cada um. Nordestino representado aqui, tentando ganhar a vida, com a esperança de mudança, sai do nordeste, de toda parte do mundo, do Brasil inteiro, para tentar a vida em São Paulo, por ser uma grande metrópole. E isso me inspirou muito. E muitas vezes eu pegava o trem para observar a movimentação e os rostos. Além de pegar o trem, ainda pega ônibus, e vai, vai com aquela alegria de querer vencer na vida, mandar um dinheiro para as famílias, que ficou lá no Recife, lá em toda… No Ceará… Muita gente, é boliviano, é japoneses, todo mundo aqui vindo ganhar a vida, ganhar um pouco para ter uma vida mais digna, né amiga. É isso que me encantou e me fez pintar. (…) É, eu pinto também óleo sobre tela, mas nesse caso aí foi acrílico sobre tela. Porque me encanta as cores. No nordeste, na realidade, Olinda, Paulista onde eu moro, no Recife, as cores são muito puras, dá gosto de ver os casarios pintados, as pessoas vestindo a bandeira de Pernambuco, as pessoas colocar o mais claro possível as cores. Não são cores nubladas, são cores vivas, fortes. E isso me encanta. Eu gosto de retratar coisas com muita cor, porque acho que as cores tiram a gente até de uma situação tosca que o mundo nos coloca, sabe. Com tantas dificuldades, acho que uma cor mais forte, faz a gente se reportar para uma coisa mais alegre, de sair da mesmice da tristeza que está passando.”


Marlene Crespo - Cobra e Jacaré, e Mulher Chorando

Transcrição

“Eu sou artista há muito tempo, e às vezes a gente cria e não tem muita consciência das bases de sua criação. Agora, eu tenho, olhando para todo o meu trabalho, tanto o trabalho de bordado como o trabalho de gravura e desenho, eu vejo que as fontes de inspiração principais são a pessoa da mulher e a natureza. Sobre a ‘Cobra e Jacaré’, o motivo é que um dos motivos principais do meu trabalho são os animais. Isso remete à minha infância e à ligação bastante natural que eu tenho com o meu trabalho, apesar de ter estudado e tudo mais. Então, eu me lembro de ter visto cobras – principalmente cobras -, quando eu era criança no lugar bem selvagem, quase selvagem, né, de Campos dos Goitacazes. Então, essa lembrança aflorou a mim em forma de bordado, como já havia aflorado em outras linguagens. (…) Na expressão do meu trabalho, a figura da mulher aparece com frequência, porque é a minha própria expressão. O meu trabalho sempre foi considerado um trabalho muito feminino, um trabalho de mulher. Então, a expressão da mulher aparece. No caso, a mulher deve estar chorando por alguma razão, que me inspirou a bordar isso.”


Mestre João do Carmo - Caveira pedalando em círculo com carona, e Tocando e Cantando no Além

Transcrição

“Os meus brinquedos, eles fazem movimento, né. Tem muitos que fazem [bonecos], mas não faz o movimento. Eu faço tudo com movimento. (…) Quando veio a ideia da caveira? Ah, a gente vê assim nesses… Desses caras que pintam quadro, a gente tira uma cópia, né. (…) Eu morei muito tempo na roça, né, então quando chovia, eu sempre fazia essas coisinha assim, aí eu passei a morar numa casa de repouso, que eu perdi um da minha família, aí eu fiquei conhecendo o Marcão. Aí o Marcão abriu a porta para mim aqui.”


Nilda Neves - Histórias de amor e A dúvida do Saci

Transcrição

“Essa ‘História de Amor’ é fantástica, ela tem uma história… Isso aí vem desde 1880 e… 1886… Houve a primeiro a guerra do Rio Grande do Sul, e eles foram exterminados. E aí veio a Guerra de Canudos, que após três, quatro guerras os baianos foram exterminados também. O pessoal do Rio Grande do Sul gostou muito, achou que o baiano era um homem muito valente, e desceu para o sertão da Bahia, para juntar com os baianos, os derrotados no caso, né, e fazer nova guerra, fazer uma revolução para provocar a República, e queriam uma nova guerra. Esse pessoal que veio do Rio Grande do Sul eram chamados ‘revoltosos’. Olha, cada nome! (risos) Esse pessoal que conta histórias é demais… E aí eles ficaram lá no sertão da Bahia, e fizeram muita baderna e roubaram, e pintaram… Mas a República não deu satisfação a essa história e o dinheiro do pessoal do sul acabou. E eles começaram a roubar gado, égua, cavalo dos baianos, e aí começou uma confusão. E três gaúchos foram presos ali. E um dos gaúchos era amante de uma baiana, entendeu. E ela ficou indignada quando ele foi preso, sabia que ele ia morrer. E aí, o que que ela fez – essa mulherzinha que está aí na porta, uma de vermelho -, ela ficou durante um ano batendo pandeiro na perna e serrando a grade. Quando o dia já ia amanhecendo ela colocava uma cera de uma abelhinha que tem, que chama tubi. Com um ano, ela conseguiu serrar as grades, jogou a corda e tirou o amor dela. Um dos gaúchos estava gordinho, ficou entalado, não sei o que que aconteceu com ele. Bonita história, não é verdade? Essa baiana arretada. O outro é ‘A Dúvida do Saci’ é que, é o coração, assim. Às vezes você está ali com um amigo. Um é amigo, e quem você pensa que é amigo, não é amigo. Então, tem ali a fada e do outro lado o lobisomem. E o saci fica na dúvida, não sabe para onde deve ir, se para o bem ou para o mal. A dúvida do saci é essa daí, que às vezes você está numa situação e você não sabe para que lado olha.”


Nilson Machado - Olho por olho I

Transcrição

“Então, ‘Olho por olho’ é porque todo mundo fica ligado, de olho no celular, olho por olho no celular, mas não tem o olho por olho com as outras pessoas, pessoalmente. E aí, sempre ligado no celular, e não vendo o perigo que corre ao seu redor. Tem vez que a onça representa o perigo, o perigo como o ser humano. Vamos supor, tem um ladrão. As pessoas que estão ligadas no celular, elas não analisam. A pessoa fica de olho por olho no celular, e não fica analisando o perigo que está correndo ao seu redor. E de repente, o próprio ladrão pode pegar esse celular, correr, roubar, assaltar, e de imediato nem está sabendo o que que ocorre ao redor. E também, pode também estar num lugar perigoso. Vamos supor, você vai numa mata, ou num lugar distante, e vai procurar torre para ligação, porque está, assim, doido por internet, doido por ligações, doido por isso e aquilo, pelo mundo tecnológico, e aí a pessoa vai querer ligar, vai querer fazer qualquer coisa e não sabe os perigos que corre também dentro dos seus redores. Então, o celular, o ‘Olho por olho’, é uma imaginação que a internet veio para ajudar, e também ao mesmo tempo ela tem os seus perigos, né? Porque as pessoas, o olho por olho, comunicando com a pessoa sem conhecer a pessoa. É muito interessante é a forma, assim, que as pessoas se isolam, e não tem o olhar do olho por olho com as outras pessoas, pessoalmente.”


Nofal - "O passeio" - Menino Jesus e S. Francisco no Pantanal

Transcrição

“Eu acho interessante o contexto de trocar as idades, né. No caso, Jesus veio muito antes de São Francisco, né? São Francisco veio depois. Aí Jesus criança passeando num lugar que Jesus nunca pisou, na história da Bíblia, ele nunca veio no Pantanal, né, e lá ele está com a natureza, junto com tudo, com os bichos. E você que eu coloquei uma expressão, assim, de ternura no rosto dele, com tudo. Eu quis passar, assim, a ternura que Jesus tem pela vida, pela vida no geral. Porque você coloca São Francisco e Jesus num lugar na natureza, onde só tem paz, não tem nada, não tem vida humana quase, não tem a conturbação da cidade grande. E aquelas pessoas que estão vendo o quadro, que moram num lugar conturbado, numa cidade grande como São Paulo, ou como outras aí, eles tem essa oportunidade de ver uma coisa suave, uma coisa que vai levar a alma deles a uma viagem interior que pode ajudar a pessoa a se sentir melhor. E eu gosto de pintar colorido porque eu acho que as cores me… assim, pelo estado de alma, né. Você tendo a alma, assim, mais alegre, você gosta de pintar cores vivas, cores bonitas. E eu gosto de fazer isso. Porque os meus quadros são bem coloridos, por causa desse lado, eu gosto de fazer pelo lado, assim, de demonstrar aquilo que você sente. Eu acho que o artista passa na realidade, a arte Naif passa a alma do artista para quem vê. Então se você passa a ideia, assim, de um quadro menos colorido, é o seu estilo, naquele momento, o estilo da alma do artista, o que ele está sentindo, como que ele está naquele momento. Então eu, para mim, no momento que eu estou pintando, eu viajo, eu estou lá no pantanal, estou vendo as cores. Você não imagina como é lindo.”


Paulo Perdigão - Os Sambistas

Transcrição

“Meu trabalho com a madeira é justamente esse de tentar resgatar esse trabalho que eu acho que… que no eixo, no eixo do sudeste, por exemplo, lá na minha terra, por exemplo, você não… É um trabalho que é muito pouco valorizado. Quando eu vim para Pernambuco, eu convivendo com outras pessoas, eu percebi que o artesanato aqui é muito forte. Daí eu comecei a trabalhar com o meu material, a experiência que eu tinha de trabalhar com madeira, trabalhando com os personagens da cultura pernambucana, por exemplo, o caboclinho e tal. Mas como eu também sou ligado ao samba, porque na verdade eu sou um cantor de samba, tenho disco gravado – tenho dois discos gravados -, então eu comecei também a trabalhar essa parte dos bonecos trabalhando com o samba. Ou seja, o meu… esse… essa escultura que está aí na Bienal é “Os Sambistas”, são quatro bonequinhos do samba, um grupo de samba, eu pintei eles com as cores de escolas de samba. Cada um com uma cor de escola de samba. E tem outras tantas coisas também que eu verso pelo samba, porque cada peça que eu tenho dessas, elas tem alguma coisa em relação à música, que eu também componho.”


R. Lopes - Homo Sapiens. Homem Primitivo I

Transcrição

“Eu trabalho também com publicidade, né. Eu pintava os personagens no mural para fazer propaganda do colégio, sobre a história da humanidade. Aí eu peguei a fase mais primitiva, que é a do Homo Sapiens, que é o mais primitivo – é porque vai evoluindo, evoluindo sobre a história, né? Aí eu, eu criei a parte do homem mais primitivo, que ele não vivia nem em cavernas nem em choupanas, vivia nômade. Ele vivia nômade, ele vivia, assim, vamos falar assim, no tempo, ele não tinha ainda a criatividade para construir uma choupana ou para morar na caverna, então ele, ele era o homem mais… uns dos homens mais primitivos da história, da pré-história, né. Isso aí, isso aí faz parte já da minha natureza, que eu sempre fui pessoa simples da roça, então a gente tem, sempre tem inspiração, a gente viveu muito isso aí. Eu pinto muitos quadros bonitos, se você puxar no meu site, você vai ver que eu tenho muitos quadros que é primitivo, mas é tudo quadros bem acabados, bem pintado. E não é porque é primitivo que também o cara não vai pintar, não vai saber pintar bem pintado, né?”


Randolpho Lamonier - Meninos da Vila Cristina e Gabriel Fuzilado (Série "Crônicas de Retalho")

Transcrição

“Eu tenho uma pesquisa, assim, que gira muito em torno dos espaços onde que eu vivi. Eu estou sempre muito atento com essa questão. E eu morava, eu cresci numa cidade industrial, que é Contagem. Eu morei nessa cidade até os vinte e poucos anos, e eu morava numa periferia, e então, assim, eu sempre tive contato com um ambiente bastante hostil, vamos dizer assim. Então, eu acho que esse ambiente sempre me interessou muito, me pegou muito forte assim, porque, é… as questões sociais são, elas sempre são muito urgentes. Então eu já tinha desenvolvido outros trabalhos nesse lugar, no lugar da cidade, no lugar da vida cotidiana, assim, da comunidade, e das relações de poder também, que ficam muito evidentes. Então, esses dois trabalhos foram um começo de uma pesquisa que eu comecei a desenvolver com o tecido, com o bordado. ‘Arpillera’, ou… enfim. É uma técnica que eu fui experimentando a partir de lembranças, porque minha mãe e minha avó eram costureiras, né. Minha mãe trabalhou inclusive na indústria. Então, os dois trabalhos que eu mandei para a Bienal são como se fossem crônicas, eu chamo, penso nelas como crônicas, pequenas, pequenos recortes, pequenas narrativas que tratam desse lugar. Da memória desse lugar, porque eu já não morava mais nesse… Já não moro mais nessa cidade.”

 


Raquel Trindade, a Kambinda - LAROYÊ EXU!

Transcrição

“Meu objetivo ao pintar esse quadro é primeiro porque demonizam muito os orixás e os orixás não são demônios, não. Nem o negro nem o índio acreditavam no Diabo, o Diabo é uma imposição europeia. Aí a minha… Como nós fizemos um espetáculo no nosso teatro sobre a dança dos orixás, um amigo, Almir, dançou muito bonito para Exu, e eu desenhei a roupa, né, e aí deu vontade de fazer, pintar o Exu, para pararem de demonizar os orixás.”


Renata Kesselring - Tigre 2

Transcrição

“Eu gosto muito de bichos, né, de animais, e eu gostei do tema. Eu gosto também do tigre, eu vi… fiquei vendo várias imagens de tigre na internet e eu gostei muito da imagem do tigre deitado. Fiz primeiro o esboço, né, o desenho. E aí depois eu passei para a tela. (…) Aí tirei uma foto, imprimi uma foto, e depois eu passei para a tela, mais ou menos com as cores do tigre. Eu gosto muito de bichos, de animais, e… e retratar, né.”


Roberto Boetger - Velho Chico

Transcrição

“Antes de tudo, eu não sou artista. Eu sou um ex-executivo que pinta nas horas vagas. Eu tenho grande apreciação pela obra básica, por artesanato, por obra popular. Eu nasci em Porto Velho, Rondônia, e tive muita ligação com rios. Durante muitos anos eu viajei pelo Amazonas, eu fui executivo de uma grande multinacional. E nesse meu trabalho também eu viajei muito também pelo nordeste. Então, eu tive uma ligação muito grande com rios e com o nordeste, com o Rio São Francisco, e com carrancas, e com obras populares, de artesanato popular. E o Rio São Francisco tem uma… É um dos rios mais importantes do Brasil, é fundamental para o nordeste, e está morrendo. E ninguém está fazendo absolutamente nada. Então, foi uma maneira singela, que eu encontrei, de lembrar o Rio São Francisco e esse problema ecológico, ambiental.”


Ronaldo Torres - Família e o Ipê Amarelo, e Simplicidade

Transcrição

“Eu sou um cara naturalista, né, eu gosto da natureza. Então, o ipê amarelo ele chama muita atenção. Onde você vai, ele destaca na mata. Então, eu peguei e coloquei o ipê amarelo como uma referência, e a família, né, que hoje a família está dispersa, e aquela família do interior, que era… todo mundo almoçava junto, fazendo as tarefas juntos, isso já não existe mais no meio urbano, e também no rural de hoje, mas antigamente tinha. (…) Esse mundo aí já não existe mais, e a árvore que eu coloquei ela aí como se tivesse uma pessoa atrás da árvore, visualizando tudo, essa árvore é o Jequitibá Rosa. Então eu vi uma árvore dessa caída na mata e ela estava cortada, né, então ela tinha uma cor muito bonita e eu tentei expressar essa cor nesse… no quadro. E vê que a… como ela era bonita, e para pintar ela toda, que ela era muito grande, a árvore, então deu para fazer muito detalhe dela. E também falando da simplicidade do povo também, da roça, do pessoal tranquilo, fora da agitação da cidade, é um povo de paz.”


Rosalina - Caminho para o Futuro, e Viva a Natureza

Transcrição

“Essa cor e esse processo que eu fiz na tela, é uma coisa, uma inspiração que sai de mim, sai da minha mente. Eu não desenho não. Eu faço assim, eu pego a tela branca e vou pintando nela, vou jogando, vou pintando tudo nela. Aí faço o desenho. Esse desenho, assim, é um… é tipo assim uma coisa que eu tenho na imaginação. Então, esse ‘Caminho para o Futuro’ é uma coisa que a gente está tendo agora. É que eu penso assim, sabe? Que agora tem o futuro para tudo. Tanto para pintar, como para falar, como para andar. O espaço que eu criei. De paz, alegria, é uma coisa que a gente tem, que é para sempre. E eu também tenho esse problema comigo assim, que eu fazia […], então para mim tudo era diferente, né. Depois que saiu o […], que comecei a pintar, tudo assim, então que, essa coisa que tinha dentro de mim, eu botei tudo para fora. Então, isso é o caminho do futuro. Para mim é esse, que eu peço, também, da água, das árvores, do espaço que eu tenho agora, dentro de mim. O caminho do futuro é uma estrada que a gente caminha, que nunca vai ter fim para a gente, é isso que eu penso. O ‘Viva a Natureza’ é viva a vida da gente também, né. O ‘Viva a Natureza’ é assim, é uma coisa que a gente tem que criar na gente, a natureza da gente mesmo, né.”


Roseli Fontaniello - Lances

Transcrição

“O meu objetivo, a princípio, é retratar a chuteiras dos jogadores. (risos) Eu era assim… Eu sou apaixonada em cores, e me atrai aquele colorido, o pessoal sentado na arquibancada, as chuteiras dos jogadores, o uniforme deles, as cores dos uniformes, aquele… aquela movimentação toda. Então, o meu objetivo foi retratar isto. Então, às vezes, eu pego um recorte de jornal, eu vejo, eu acho maravilhoso. Aí eu deixo guardadinho. ‘Um dia eu vou fazer esse lance aqui.’ Aqueles jogadores com os pés lá em cima. É… Ai, é um encantamento, é um encantamento que produz em mim. As cores. As cores e o movimento do futebol. Essa paixão. Essa paixão… mundial, né? Essa paixão mundial. Isso me atrai e eu tenho, eu tenho que me segurar, porque me dá vontade de fazer todos os lances que eu vejo. (risos)”


Saulo - Gado no pasto na neve

Transcrição

“Desde… Eu não lembro muito bem. Acho que tem já uns três ou quatro anos já que eu pinto. É… Esse quadro do boi, o gado das neve, ele veio na minha cabeça de fazer essa coisa. Eu não queria mesmo falar, mas é… veio assim da minha cabeça. Eu vi gado passear na serra, na Serra de Santa Catarina. E lá neva, tem gado, tem tudo, então veio na minha cabeça fazer isso. Um quadro desse. Tem cachoeira, tem tudo. (…) Eu busquei nas cores, eu procurei nas cores, e eu vou pintando, vendo as cores que pode botar ali. É um sentimento bom, alegre, saudável.”


Simone Koubik - A Genealogia de Jesus

Transcrição

“Eu tenho algumas obras religiosas que eu faço há muito tempo, né. Eu gosto muito de fazer esse trabalho pensado nessa questão religiosa, mas não no sentido de religião por religião, de ter uma religião, mas é no sentido mais da fé, porque eu sempre tive uma ligação com Jesus muito grande, desde criança, através das histórias que eu ouvia, talvez das missas que eu ia, sabe? De eu ficar imaginando como é que ele era, essas coisas, sabe? (…) Uma obra que pudesse falar sobre essa questão da genealogia de Jesus de uma forma visual. Sempre eu gostei de saber, assim, quem foi os antepassados de Jesus. Na Bíblia tem essa questão, mas é uma narrativa escrita, né? E a gente não tem ideia, assim, de como que é as feições dessas pessoas, desses personagens. Então, eu quis assim, na minha imaginação, mostrar esse lado, assim, mais visual.”


Stevenson Moschini - África Unida II

Transcrição

“É, eu, na verdade, também eu pesquiso muito em termos de música – eu tenho um programa na rádio aqui em Piracicaba, que chama ‘Raízes Africanas’, e aí tem um pouco da cultura negra, né -, mas, na verdade, é… foi espontâneo, na verdade. Eu acho que… é… eu procuro, assim, no meu trabalho, uma arte que tenha, assim, elementos fortes do imaginário do Brasil. E também não é uma coisa muito pensada e racionalizada. Ele vai saindo. Tem coisas do… muito assim dessa herança africana no Brasil, né, em termos da nossa cultura. E em termos do olhar da exposição, a obra ela tem uma distância para olhar. Muitas vezes você olha de perto, de longe… Acho que de longe dá outra visão, um pouco diferente também, né. Ela é cheia de detalhes, é uma coisa para observar com calma. Acho que é um pouco isso assim.”


Suellen Estanislau - No Vale das Cabeças Encolhidas e Rei das Criaturas

Transcrição

“No ‘Vale das Cabeças Encolhidas’ eu fiz – na verdade, todas as pinturas desta série, elas são feitas a partir de filmes da Sessão da Tarde. Eu vou recortando personagens, eu escolho, por exemplo, uma criança que eu goste de um filme, pego a cabeça, o corpo… a cabeça de uma, o corpo de outra, a posição de outra, e eu vou encaixando para criar um universo aonde elas estão vivendo. Porque que os filmes da Sessão da Tarde são importantes, porque eu acho que… Esses filmes não foram importantes, ninguém ganhou Oscar e tal, mas eu acho que fizeram com que as crianças dessa geração entrassem em contato com os seus próprios problemas. Porque assim, eu sou de uma geração de onde estava surgindo o bullying, e não se discutia muito isso, então nos filmes era onde eu encontrava as referências disso, que a criança que sofria o bullying no filme é a criança que entrava num mundo mágico, que vivia altas aventuras.”


Tatiana Seabra - Raízes

Transcrição

“Eu moro perto de uma aldeia aqui no norte do Estado. Eu estava lá e aí me veio essa inspiração de fazer uma pessoa sofrida, uma índia, e veio essa índia, que pelo jeito foi bem antiga, bem… de séculos passados, muito tempo assim. Então, foi isso. Eu pinto o que vem de dentro de mim. Realmente, eu não olho muito para pintar, e vem assim uma inspiração de criação, e eu crio. ‘Raízes’, né, do Brasil, né, onde tudo começou, de onde tudo começou, pelas raízes dos índios, né, raízes dos negros. E houve um desenvolvimento a partir daí, né, que tem as laterais do quadro, né. O “a-b-c-d-e”, é o alfabeto do lado, em que eles foram catequizados, e tem as outras raízes, então, o ‘Boi Bumbá’, os índios de novo, mais danças deles, né, e a evolução vai indo, vem a cidade, vem a Igreja, também. Uma coisa bem rápida que teve, porque ela é bem mais antiga do que essas laterais.”


Tice - Comunidade

Transcrição

“Minha obra ‘Comunidade’, eu me inspirei nos acontecimentos de sempre, né? Que é esse fator de moradia. E com as Olimpíadas que estavam também para vir a acontecer, e essa coisa de você tirar as pessoas dos seus lugares, com as suas culturas, e modificar aquilo para virar um lugar turístico. Enfim, saem as casas e vem grandes obras. Então eu me inspirei nesses acontecimentos mesmo, que não são atuais, mas estão aí. Então eu usei tintas mais suaves em questão das cores, porque o retrato já é uma situação mais pesada, vamos dizer assim, para não ficar muito forte. Eu também gosto muito de trabalhar com madeira, a maioria dos meus trabalhos é em madeira. Como os meus trabalhos, nesse especificamente não tem o desenho por baixo, é direto a pincelada da tinta, e aí, a partir dessas pinceladas iniciais que eu dei, é que daí veio o visual, e achei que combinou bastante a madeira rústica com as comunidades como elas são, né, representadas.”


Toninho Guimarães - Pescador e o Dourado

Transcrição

“Eu agradei de fazer essa obra porque eu adoro o pescador, pescar no rio. Eu amo a natureza também, né. E o pescador é um tema do Mato Grosso, e não só do Mato Grosso, mas como do Brasil inteiro. Aí eu senti de pintar essa obra. Eu acho que essa obra vai, vai ser falado para o mundo e o Brasil e creio que todos vão gostar. Essa obra foi… essa obra foi feita em tinta acrílica sobre tela. E, foi dado um fundo, aí, deu o primeiro fundo, o segundo, o terceiro, e eu concluí a obra. Então, creio que essa obra é uma obra que vai durar muitos tempos. E, é um material muito apressivo [sic] aqui em Mato Grosso, e muita gente tem aqui também, então eu agradei de fazer essa obra que é o ‘Pescador e o Dourado’.”


Vagalume - Morro do Elefante

Transcrição

“A inspiração dessa obra, especificamente, vem do cerrado, dos animais, da fauna, da flora, aqui do cerrado da Chapada das Mesas, no Maranhão. Acho que assim, dentro da composição da obra geral, ela remete um pouquinho da devastação do cerrado, os animais pedindo esse socorro, de… Tem até uma frase escrita na tela, né, que fala do cerrado, dessa destruição e o que é o cerrado, fala um pouquinho mais específico do que é o cerrado. Aí essa foi a inspiração, né. E a questão da pintura com a textura também, do relevo. E um pouco livre na criação, né. O meu trabalho é um pouco espontâneo no momento da criação, e depois eu vou compondo o quadro. Eu faço primeiro a pintura e depois venho trabalhando com a massa em cima, livre. A massa vem como fazendo um bolo, né, vai dando a forma, como se fosse esculpido. Só que é bem espontâneo, a forma que eu vou dando, que é em cima do desenho que já estão criados, em cima do fundo que já tem.”


Valdson Silva - Enchente

Transcrição

“O objetivo da obra ‘Enchente’ foi exatamente retratar um episódio ocorrido aqui em Recife em 1975, aonde muitas vidas foram tiradas, muitas propriedades foram perdidas. E durante essa enchente, houve um boato de que uma grande barragem aqui na região metropolitana do Recife havia estourado, o que causou um pânico gigantesco no centro da cidade na época. E muitas pessoas corriam, sem saber nem porque estavam correndo. O nome dessa barragem, chama-se Tapacurá, então quando as pessoas eram abordadas por outras que estavam correndo também na cidade, por causa do pânico, perguntando ‘O que que está acontecendo?’, as pessoas diziam: ‘É Tapacurá que vem aí, e está matando todo mundo.’ Então, muita gente que não conhecia essa barragem, achava que Tapacurá era um monstro horrível, que vinha matando muita gente. Então, essa cena eu retratei na minha obra, com a figura de um monstro com a língua, a língua vermelha de fora – é possível ver e observar -, na tela também tem uma tesoura que representa a morte, representa o corte da vida, né, do fio da vida, e todo aquele colorido representa todos os objetos que foram vistos por mim, na época, que eu presenciei, então com doze, treze, catorze anos, eu presenciei isso aí. Então, no rio perto de casa, passava toda a série, tudo, todos os objetos que você imaginar. E todos esses objetos que passavam no rio, passavam com cores diferentes, e foi exatamente isso aí que eu quis retratar na minha obra.”


Vânia Alveira - Estação Socorro

Transcrição

“O tema foi porque, a Rosângela Politano, ela montou um projeto aqui, o Projeto Cor-Ação. E ela estava trabalhando o resgate da arquitetura, dos prédios arquitetônicos de Socorro, para resgatar a nossa cultura. E aí ela deu essa ideia. Quando eu escolhi a Estação Mogiana, foi por questão assim pessoal. O meu tio trabalhou na Estação Mogiana como telégrafo. Então, foi para mim também um resgate das minhas histórias, também, de histórias que eu ouvia, assim, no domingo na casa da minha avó, falando que o meu tio gostava muito de desenhar, e que ele trabalhava lá, e que ele ficou muito mal depois que fechou. Então, também foi um resgate. A questão das cores, eu não sei te explicar. Foi inconsciente. O naif ele tem a tendência de usar as cores primárias. Mas conforme eu fui colocando ali, foi vindo a ideia do amarelo com o branco, e depois o detalhe do trem em marrom, resgatando também a origem do trem, que é… que tentaram imitar o trem de origem britânica. Então, foi isso. E a história ali da estação, ela tem várias histórias, não só a questão pessoal, mas também foi aonde a cidade conseguiu ter um progresso, porque através do trem era levado para Sorocaba o café e o fumo. Junto disso, também trouxe os imigrantes… Era a maneira como as pessoas tinham de ir e vir daqui de Socorro para a capital.”


Vera Luccini - Virginha na Maleta - Relação virtual e com ela mesma, e Maria das Dores - Explícita porém vulnerável

Transcrição

“O meu objetivo da ‘Virginha na Maleta’ é mostrar que o mundo inteiro hoje vive dentro dele mesmo. Me veio a ideia de colocar uma menina com o celular na mão, que o celular hoje tem tudo o que você precisa, mas por um outro lado, as pessoas se fecham dentro delas mesmas, dentro de um pequeno espaço, porque elas, na verdade, precisam de muito pouco. Elas precisam olhar para elas mesmas, por isso que tem um espelho, alguns objetos que estão num bolsinho, dentro da maleta, que são poucas coisas que você precisa. Porque na realidade, o que eu quero mostrar é a solidão da pessoa fechada dentro de um pequeno espaço que é ela mesma. E eu coloquei Virginha, porque eu acho que ela é virgem de contato humano, ela com ela mesma, no espelho, e as mensagens que ela quer receber. Com a Maria das Dores o meu objetivo é mostrar as dores da mulher. Apesar de ela estar ali disponível, tanto para o sexo como para o amor – que eu mostrei isso com o zíper vermelho para chamar bem a atenção -, só que apesar de toda a disponibilidade de uma mulher, ela se machuca. Por isso que na parte genital ela tem uma ferida. É uma casca de fruta, que eu achei na rua, que assim que eu vi aquela casca cheia de espinhos eu pensei: ‘Toda mulher carrega dentro dela essa parte de espinhos.'”


Waldecy de Deus - Forró do João

Transcrição

“Eu estou numa época assim, que eu estou fazendo bastante assim, coisas folclóricas. Sobre o forró, tal. Mas eu não frequento forró, entendeu. Mas foi uma coisa que eu aprendi, assim, que eu vi. E eu frequentava também quando eu era mais jovem, tal, meu pai era sanfoneiro. Então, meu pai, todos os forrós que tinha ali na Bahia, nas casas, o meu pai tocava. Então, eu acompanhava meu pai. Mas aí, eu comecei, esse tempo, retratar o Boteco da Chica, o Forró do João, entendeu. E eu retratei também sobre o mosquito da dengue aí, que está atacando o povo. Que eu coloquei: cuidado com o forró, cuidado com a dengue que está atacando no forró também! Então, esse quadro – como se diz -, foi um quadro, assim, é… muito inspirado, é muito alegre, porque eu estava falando sobre o forró, sobre o povo que frequenta o forró, que gosta do forró, né. Então, eu achei que eu coloquei, assim, muitos coloridos, ficou muito alegre, muito bonito esse quadro.”


Zéca Maria - Futebol em Mariana e Futebol em Mariana II

Transcrição

“O ‘Futebol em Mariana’ eu escolhi por… Uma, que eu sou muito fã de futebol. É… E Mariana, porque o fato ocorrido lá me chocou bastante. Então, eu fiz o futebol lá em Mariana, o pessoal jogando antes do acontecimento, e a causa do desastre chegando e mostrando o que aconteceu. É… Eu vou deixar registrado os meus sentimentos pelo pessoal de Mariana, né, e lamentar o ocorrido, e vou continuar aí tentando registrar os próximos acontecimentos, se houver, né. E também as paisagens lá de Minas Gerais, que é a minha terra que eu gosto muito.”