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 Alexandre da Cunha[Rio de Janeiro, RJ, 1969. Vive e trabalha em Londres]Fair Trade IV Timbrado, 2011. Bordado sobre saco de juta em colaboração com Luisa Strina, 124,5×190,5 cm.Alexandre da Cunha[Rio de Janeiro, RJ, 1969. Vive e trabalha em Londres]Fair Trade XIII, 2011. Bordado sobre saco de juta em colaboração com Luisa Strina, 36×45×6 cm.Alexandre da Cunha[Rio de Janeiro, RJ, 1969. Vive e trabalha em Londres]Fair Trade XIV, 2011. Bordado sobre saco de juta em colaboração com Luisa Strina, 33,5×50 cm. 
História

Alexandre da Cunha

[Rio de Janeiro, 1969. Vive e trabalha em Londres]


Em seu trabalho, Alexandre da Cunha se apropria de materiais, objetos e citações oriundos de registros tradicionalmente distintos para transformá-los através de um processo de colagem de diferentes elementos. Essa operação em geral parte de objetos mundanos encontrados num cotidiano qualquer (toalhas, guarda-sóis, utensílios domésticos, entre muitos outros) que são retirados de seu contexto original, recombinados com outros elementos e finalmente inseridos em uma nova hierarquia de valor. Ao trazer esses objetos para dentro do universo da arte, ele os destitui de sua função original, ao mesmo tempo em que levanta questões relativas a ideias de valor, circulação ou intencionalidade.

Na série de bordados presente nesta exposição, Alexandre da Cunha, assim como em trabalhos anteriores, se apropria de um fazer/saber popular e de materiais banais, fazendo uso de seu valor simbólico. Aqui ele associa a qualidade da trama das telas de bordar à trama dos grandes sacos de juta utilizados na exportação dos grãos de café, que servem como matéria-prima para esses trabalhos. Ora mais figurativas, ora mais abstratas, as composições de cada bordado foram cuidadosamente selecionadas pelo artista a partir das ilustrações originais desses sacos, às quais ele nada acrescenta. Cabe notar aqui que exibir as obras dessa série no contexto desta exposição, no interior paulista, cujo desenvolvimento no século XIX, como sabemos, foi movido pela indústria cafeeira, faz com que adquiram um sentido renovado ao ativar suas relações com a História.

Mas além dessas diferentes camadas de significado, um dos elementos mais interessantes nesta série é a confusão de papéis que o artista causa, pois aqui quem realiza o trabalho manual do bordado é sua galerista, Luisa Strina. O bordado é uma atividade normalmente associada às mulheres afeitas aos trabalhos domésticos e que não possuem ocupações profissionais; uma imagem que contrasta tremendamente com a figura da galerista, de mulher independente e empreendedora. Essa série de trabalhos promove, portanto, o encontro de dois mundos profundamente distintos; um ligado ao artesanato, à repetição de uma técnica e de um conhecimento ligados a um fazer feminino em sua acepção mais tradicional, e outro associado à arte contemporânea, à vanguarda cultural, à inovação conceitual e ao internacionalismo.