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 Daniel Steegmann Mangrané[Barcelona, 1977. Vive e trabalha no Rio de Janeiro]Kiti Ka’aeté (Verso), 2011. Colagem, parede, buraco, projetor de slide, slide cortado a laser, 17x13,5 cm. Dimensões totais variáveis. 
História

Daniel Steegmann Mangrané

[Barcelona, 1977. Vive e trabalha no Rio de Janeiro]


Ka’aeté é uma palavra que em tupi significa “floresta profunda”, longe dos territórios habitados. É o lugar mítico onde vivem os deuses e os espíritos, onde terminam os caminhos, o impenetrável. Kiti significa cortar com um instrumento afiado, pelas mãos humanas e por meio da técnica. Assim como na interpretação hegeliana, para as tribos indígenas do Brasil, a Ka’aeté, floresta profunda, é também um lugar sem história, onde as coisas ainda não estão formadas e onde os animais podem se metamorfosear.

Kiti Ka’aeté é o título geral de um projeto de Daniel Steegmann Mangrané que se originou de uma colagem em que o artista se baseou na arte abstrata dos tupis, com seu complexo sistema geométrico, para realizar cortes precisos sobre uma imagem da floresta amazônica. Num desdobramento subsequente do mesmo trabalho, que é a versão presente nesta mostra, a colagem foi instalada dentro de um painel expositivo e iluminada por trás, apenas por um projetor de slides. Desse modo, os feixes de luz branca atravessam os pequenos cortes e sua luminosidade emana da face da imagem, conferindo uma qualidade espiritual ou anímica à floresta abstrata. Integra essa instalação o espaço entre o projetor e o painel no qual está situada a colagem. Aberto e acessível, ele pode ser atravessado pelo público que interrompe intermitentemente o feixe de luz do projetor, causando um efeito tremeluzente que pode ser observado por quem está defronte à face da colagem.

Kiti Ka’aeté traz para Além da Vanguarda a dimensão da arte indígena, manifestada através de sua releitura dentro do contemporâneo. A aparência construtiva da colagem, que, no âmbito da arte contemporânea produzida no Brasil, normalmente evoca ou referencia os exercícios da arte concreta e neoconcreta, aqui aponta para outras possibilidades de experimentação com a geometria e, não menos importante, do significado de sua aproximação com a vida.