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 Pablo Lobato[Bom Despacho, 1976. Vive e trabalha em Belo Horizonte]Bronze Revirado, 2011. Pablo Lobato[Bom Despacho, 1976. Vive e trabalha em Belo Horizonte]Bronze Revirado, 2011. Pablo Lobato[Bom Despacho, 1976. Vive e trabalha em Belo Horizonte]Bronze Revirado, 2011.  
História

Pablo Lobato

[Bom Despacho, 1976. Vive e trabalha em Belo Horizonte]


A obra do artista mineiro Pablo Lobato que integra a mostra Além da Vanguarda apresenta uma imagem recorrente e altamente simbólica dentro do universo da arte popular: o sino de igreja. Na história da Bienal Naïfs do Brasil, são inúmeras as obras registradas em que os sinos figuram em paisagens de praças ou de festividades, sempre alçados no topo das pequenas torres das igrejinhas das cidades do interior do País. É justamente em Minas Gerais, estado natal de Lobato, que se encontram algumas das mais preciosas igrejas do período barroco. Foi ali que o artista realizou uma pesquisa sobre os sinos de diferentes cidades, muitos deles hoje desativados, uma investigação que resultou numa série de trabalhos que inclui Bronze Revirado, a videoinstalação que apresentamos aqui.

Como descreve Jacopo Crivelli Visconti em comentário sobre essa obra, “[A]o percorrer e estudar esse tema, o artista verificou que, desde sempre, o lugar no alto das torres onde os sinos são tocados pertence quase exclusivamente aos sineiros (que, antigamente, eram em sua maioria escravos): nem os fiéis, nem os próprios padres sobem até lá. Ou seja, o artista resgata a visualidade de um evento de importância fundamental no tecido social, e cuja imagem, contudo, ao longo dos séculos tem sido programática e metodicamente ocultada e até negada”. Assim, em contraste com o excesso de visibilidade da imagem do sino e da igreja nas representações pictóricas tanto eruditas como populares, o que Lobato nos oferece é um ritual que, apesar de acontecer sistematicamente ao longo dos séculos, permanece dissimulado.

Mostrado aqui em escala natural e de modo a nos transportar para os bastidores da igreja, para dentro do nicho onde se desenrola a coreografia quase erótica e arriscada dos sineiros, Bronze Revirado retém todo o seu caráter humano, revelando, como sugere Crivelli Visconti, “uma espécie de transe pagão (...) que rasga a estase e o silêncio, para instalar o êxtase”.

Somos nós que, dessa vez, entrevemos em contraplano, para além da abertura da torre do sino, a praça, as festividades regionais ou a paisagem da cidadezinha do interior.