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Antonio Santoro Junior

Bienal Naïf 2014 – “Uma nova relação entre o artista naïf, o suporte e a matéria”

 “Todas as artes contribuem para a maior de todas as artes, a arte de viver” – Bertold Brecht  

Os naïfs de hoje, atentos ao intemperismo da natureza, procuram algumas vezes mostrar, através de suas expressões plásticas ou visuais, cenas de grandes chuvas, alagamentos, a natureza sofrendo com as intempéries, bem como a desestruturação social e urbana na sociedade contemporânea. Diante dessa conjugação de fatores percebe-se que os naïfs, caminhando num paralelo à arte contemporânea, cuja práxis artística retrata o mundo contemporâneo, começam a abordar mais continuamente temas do meio ambiente, e os problemas que envolvem nossas cidades e o campo, nos dias atuais.

Desse modo, alguns dos artistas naïfs, desta 12ª. Bienal de Piracicaba, lançaram mão de suas ferramentas essenciais, como: tela e tinta, além de diversos outros materiais, para compor um painel desses problemas em suas expressões artísticas, mostrando que o ser humano pode vencer esses problemas ao controlar a força destrutiva, pela força da sensibilidade com as armas de sua arte.

Desde os tempos mais remotos, o homem sempre procurou registrar visualmente sua imagem, através de cenas do cotidiano, assim como da natureza fazendo parte do contexto. No caso da arte naïf, o elementarismo da forma nesse processo criativo foi um item indispensável para a expansão desse movimento artístico. As mudanças comportamentais, somadas à presença de novas técnicas e matérias, à tecnologia e ao processo de comunicação, puderam atuar positivamente no elementarismo da forma durante esse processo.

 A arte naïf como movimento de expressão artística vem se modificando através dos tempos. Isso porque o homem não é um ser estático; ele se influencia por tudo aquilo que está a sua volta, e o mesmo aconteceu com a arte e com os artistas naïfs.

A princípio, a arte naïf surgiu como uma arte bidimensional, cujo suporte era a tela e a matéria era a tinta à óleo. Hoje em dia, como ocorreu nesta 12ª Bienal, pode-se verificar que entre os trabalhos selecionados novas matérias foram agregadas, assim como novos suportes foram utilizados pelos artistas, numa nítida alusão à arte contemporânea.

Mais do que narrativas, cenas e testemunhos de situações, essas obras apresentadas trazem à tona um universo de mitos e símbolos decodificados pelos artistas.

As rápidas transformações que vêm ocorrendo na sociedade, o avanço da tecnologia no mundo contemporâneo e as tendências à globalização influenciaram significativamente a cultura mundial; não é de estranhar, pois, que o mesmo tenha ocorrido na Bienal dos naïfs.

Ao analisar essas novas atitudes e reflexões dos artistas, é necessário também considerar novas atitudes para reexaminar a postura do ser humano diante da arte, lembrando que, aqui, não se trata de uma defesa ou uma condenação dessa nova postura, mas de reflexões sobre a arte, de quem vem acompanhando há longo tempo a arte e o trabalho dos artistas.

O meu relacionamento com a Bienal Naïf de Piracicaba tem sido sempre de admiração e envolvimento, desde que tomei conhecimento desse projeto tão importante e eloquente no campo das artes, quando o mesmo era ainda “Exposição naïf” de Piracicaba, até atuar como participante do júri de seleção e premiação na década de 1980, acompanhando todos esses anos de produção expositiva. Agora, em 2014, mais uma vez retorno como membro do júri, para poder de perto apreciar todos os trabalhos inscritos e perceber que no decorrer dessa caminhada as mudanças aconteceram, fossem elas de caráter estrutural por parte do Sesc, fossem comportamentais por parte dos artistas participantes, mas sempre pertinentes na práxis artística, além de nunca perder o foco no seu caráter naïf.

Os resultados obtidos na seleção de obras desta bienal naïf nos fizeram sentir que os artistas, o júri e o público visitante foram como atores num espetáculo compartilhado coletivamente.

A Bienal Naïf do Sesc 2014 será uma exposição que irá transmitir um toque de magia usado por esses artistas como um fio condutor de força, da vida e da arte.

“A arte da vida consiste em fazer da vida uma obra de arte” - Mahatma Ghandi

Antonio Santoro Junior

Crítico de Arte: APCA / ABCA / AICA

Professor universitário e museólogo

Maio/2014